Cinco chilenos adoptados ilegalmente por famílias norte-americanas durante a ditadura de Augusto Pinochet partiram esta sexta-feira de Houston, no estado do Texas, para se reencontrarem, pela primeira vez, com as suas famílias biológicas.

“Vou finalmente conhecer a pessoa que me trouxe ao mundo, vou poder ver de onde vem a minha energia e com quem me pareço”, afirmou Ana Maria Haefmeyer, de 36 anos, assistente administrativa no estado norte-americano do Minnesota e uma das pessoas no voo para o Chile.

Haefmeyer e outras quatro pessoas conseguiram encontrar os seus pais biológicos graças ao trabalho da Connecting Roots, uma organização não-governamental que se dedica a reunir crianças chilenas adoptadas há várias décadas com as suas famílias.

Grupos de defesa dos direitos humanos estimam que milhares de crianças tenham sido roubadas aos seus pais biológicos e adoptadas por famílias estrangeiras durante a brutal ditadura de Pinochet, que durou de 1973 a 1990.

Pinochet incentivou as adopções para reduzir a pobreza no país, mas acredita-se que profissionais de saúde, membros do clero e juízes, entre outros, tenham colaborado e lucrado com as adopções.

A Connecting Roots foi fundada por Tyler Graf, um bombeiro do Texas que em 2021 descobriu que era uma de muitas crianças roubadas à nascença no Chile e pôde reencontrar a sua família biológica.

Nos seus documentos, lia-se que a mãe o deu para adopção por ter pouco dinheiro e outras crianças para criar. Contudo, à sua mãe, Hilda del Carmen Quezada, foi dito que o filho tinha morrido duas semanas após o nascimento.

Os cinco chilenos que aterram este sábado no país onde nasceram deverão passar os próximos dias reunidos com as suas famílias biológicas. Na última década, desde que foram conhecidos os primeiros relatos de adopções ilegais de crianças chilenas, mais de 550 pessoas terão conseguido reencontrar as suas famílias.

Ana Maria Haefmeyer guarda um pedaço de papel em que está escrito o nome da sua mãe e diz que a procurou durante toda a vida, sem sucesso. Só quando se casou e alterou o nome de solteira é que descobriu que ainda tinha cidadania chilena, decidindo então pedir ajuda à Connecting Roots.

Admitindo o nervosismo e entusiasmo pelo reencontro, conta que os seus pais adoptivos a apoiam nesta viagem. “Eles sabem que isto vai fechar ou preencher o vazio que tenho no coração.”