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Como levar uma criança a experimentar novos alimentos? Se juntar este jogo, “até se esquecem de que não gostam”

A hora da refeição pode ser um momento delicado para quem tem crianças. Dos vegetais à fruta, a aversão por determinados alimentos pode complicar a preparação de refeições. Levar a brincadeira à mesa é uma boa solução, razão pela qual um grupo de investigadores portugueses se decidiu a desenvolver um jogo.

Personagens de fantasia, diferentes poderes, vários territórios e monstros são as componentes do FlavourGame, que alia um jogo de tabuleiro à tecnologia e à alimentação. Mesmo os alunos que diziam que não iriam provar nada ou que as mães avisavam que eram altamente esquisitos com a comida, “eram os primeiros a provar”. “Estavam a provar não pela comida, mas pelo fator jogo e como estão embrenhados nisso até se esquecem de que não gostam”, explica Nelson Zagalo, professor na Universidade de Aveiro e responsável pelo projeto.

No decorrer do jogo há monstros que vêm de ilhas próximas e que se desenvolveram devido à má alimentação. Para os jogadores os derrotarem, precisam de “recarregar as baterias” – ou seja, têm de se alimentar. Entre fruta e frutos secos, o objetivo é levar as crianças a provarem os alimentos, cortados em pedaços indistinguíveis, e adivinharem do que se tratam para avançarem de nível. “Essa foi a forma como encontramos a jogabilidade da comida”, afirma.

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A ideia surgiu do tema “extremamente rico e interessante” da tese de Susana Lamas, uma aluna de Nelson Zagalo, que tinha o propósito de perceber como poderia ser feita uma “melhor comunicação de ciência junto das pessoas, que fosse além do mero folheto”. Exemplo: um filme educativo pode ser “muito sério, muito educativo, muito informativo”, mas isso pode conduzir a uma falta de atenção e de integração da mensagem pelo telespectador, em especial em crianças.

Quando são distribuídos panfletos nas escolas sobre a alimentação saudável, “eles pegam no folheto, vêem que é interessante, mas não acontece nada”. Enquanto “se as crianças praticarem a ação realmente dentro do jogo, tenderão a replicá-la mais tarde no seu dia-a-dia”, por isso, a ideia era passar “do folheto para um jogo”.

Nelson Zagalo afirma que um jogo “é mais transformador” do que um livro ou um filme educativo, em que as crianças podem aprender sobre o assunto, mas não interagem com a mensagem. “Só posso fazer isso num ambiente que tenha fisicalidade e interação, e o jogo permite isso”, afirma.

Para testar esta ideia, criaram o jogo educativo sobre a nutrição porque, “a partir dos 10 ou 11 anos, o paladar começa a fechar” e a pressão social de os colegas dizerem que não apreciam determinado alimento conduz a um comportamento semelhante. A nossa ideia era atacar a neofobia, que é: não quero experimentar [porque] não conheço, prefiro comer aquilo que já conheço, que me sabe bem e com o qual estou confortável. O jogo cria um espaço onde se quebra esse conforto, porque ele é obrigado a experimentar, senão não consegue avançar no jogo”, explica o docente universitário.

Após experimentarem o jogo desenvolvido em escolas, houve encarregados de educação que notaram uma “maior abertura” para experimentar comida. “Experimentar um alimento, no fundo, passou a estar associado a um ato de jogar e de brincar, por isso passaram a ver aquilo de uma forma mais normal”, garante.

Além de conseguir que as crianças provem os alimentos, o jogo promove a colaboração e o diálogo. “Funciona em modo colaborativo e não em modo competitivo”, para que os jogadores se sintam mais confortáveis em provar os frutos e possam conversar sobre os temas que vão aprendendo.

Com receio de que as crianças “não se ligassem tanto por ser só jogo em papel” e para conferir “ritmo” e “maior gozo ao próprio jogo”, desenvolveram também uma componente tecnológica que funciona como um assistente do jogo. Com o recurso a um tablet, vão sendo lançadas questões e é feita uma orientação dos jogadores na sua jornada. Uma versão inicial desta tecnologia incluía ainda um sistema que permitia localizar no tabuleiro os peões, contudo Nelson Zagalo salienta que seria preciso mais financiamento para corrigir alguns erros nessa funcionalidade.

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Entretanto, a equipa já recebeu alguns contactos de escolas para aplicar o jogo, mas atualmente o projeto procura apoio para aperfeiçoar o protótipo e entender se poderia ter as mesmas vantagens quando aplicado a outros temas, além da alimentação. Ainda assim, Nelson Zagalo realça que esta experiência dá “para tirar ideias” e um pai, por exemplo, que tenha dificuldades em convencer o filho a comer, pode incluir alimentos num jogo.

A ajuda imprescindível dos fundos comunitários

O projeto FlavourGame: Participar e Mudar, Brincando com Texturas e Sabores foi promovido pela Universidade de Aveiro, em conjunto com a Universidade Católica Portuguesa e a Universidade do Minho. Através do programa COMPETE 2020 recebeu 236 mil euros, com cerca de 201 mil euros a provierem do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

“Sem esse financiamento isto nunca seria desenvolvido”, salienta o responsável pelo projeto. Teria sido desenvolvido um jogo “em cartolina” para experimentar durante a tese, mas “ficaria por ali, nunca se teria chegado a desenvolver um jogo de tabuleiro completo”. Além deste projeto ter permitido ainda “elevar a forma como conseguimos fazer jogos no laboratório”.

Conhecer ideias que contribuem para uma Europa mais competitiva, mais verde e mais assente em direitos sociais são os objetivos do projeto Mais Europa.

Este projeto é cofinanciado pela Comissão Europeia, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta), sem interferência externa. A Comissão Europeia não é responsável pelos dados e opiniões veiculados.

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