Quando se corta um jacarandá, não se perde apenas uma árvore. Perde-se sombra, bem-estar, identidade e tempo de vida. Perde-se o valor de décadas num só golpe de motosserra.
A Câmara Municipal de Coimbra prepara-se para abater 11 árvores belíssimas – os jacarandás – na Rua Lourenço Almeida Azevedo, no âmbito das obras do Metro-Bus. São árvores com décadas de vida, sombra e história. A autarquia afirma que o corte se deve a razões fitossanitárias ou à incompatibilidade com o traçado da nova linha de transporte.
Mas todos sabemos que cada árvore filtra o ar, reduz o ruído, arrefece o ambiente urbano e melhora a nossa saúde. E a ciência é inequívoca: viver perto de árvores reduz o risco de ansiedade, depressão, doenças respiratórias e cardiovasculares. O simples contacto com o verde tem efeitos quase imediatos nos nossos níveis de stress.
Mais do que isso: viver perto de árvores pode fazer-nos sentir mais jovens e mais ricos, e ainda aumentar a nossa longevidade. Um estudo científico (de Kardan et al., na revista Scientific Reports, em 2015), realizado na cidade de Toronto, cruzou dados de saúde de dezenas de milhares de pessoas com imagens de satélite e registos municipais sobre a cobertura arbórea. Os resultados foram reveladores: ter apenas mais de dez árvores num quarteirão melhora a perceção de saúde de forma comparável a um aumento de 10.000 dólares no rendimento pessoal anual ou a ser sete anos mais jovem. E ter pelo menos mais de 11 árvores está associado a uma redução nas doenças cardiovasculares e metabólicas equivalente a ganhar 20.000 dólares por ano ou a ser 1,4 anos mais jovem.
Mais recentemente, outra equipa de cientistas (de Kim et al., na revista Science Advances, em 2023) mostrou que as pessoas que viviam rodeadas de árvores apresentavam um envelhecimento epigenético mais lento — ou seja, uma idade biológica mais jovem. Esta medida baseia-se na metilação do DNA, que está associada a doenças e mortalidade precoce. De uma forma simples: estar próximo de árvores e espaços verdes não só faz bem, como atrasa biologicamente o envelhecimento.
É igualmente conhecido o papel fundamental das árvores no combate às chamadas “ilhas de calor” urbanas. A presença de árvores numa rua pode reduzir a temperatura do ar até 5 °C e a do alcatrão até 15 °C. Cortar os jacarandás agora é agravar, nos próximos anos, os efeitos das alterações climáticas em Coimbra, sobretudo para os mais vulneráveis: as pessoas com mais anos de vida e as crianças.
O Metro-Bus pode e deve ser um projeto de mobilidade sustentável. Mas a sustentabilidade não pode significar sacrificar o verde, e o lilás, das ruas de Coimbra. Melhorar a mobilidade, sim, mas não à custa da saúde nem da natureza que dá alma à cidade.
Haverá certamente formas de ajustar o traçado e encontrar soluções técnicas menos destrutivas. E deve haver um debate sério, transparente e participado. Cidadãos, especialistas e comunidade de Coimbra têm o direito de ser ouvidos, e não depois da decisão tomada, mas antes. A substituição por árvores jovens não é solução: levará décadas até que ofereçam os mesmos benefícios. E em tempos de crise climática e de saúde pública, o tempo é precisamente o que menos temos.
Coimbra tem de ser a cidade onde o transporte e a natureza coexistem. Onde se aposta na mobilidade sem cortar a memória verde (e lilás), nem a beleza viva do espaço público.
Que os jacarandás da Rua Lourenço Almeida Azevedo não sejam mais um símbolo do que se perdeu sem necessidade, mas o início de uma nova forma de pensar a cidade de Coimbra: mais fresca, mais humana e com mais anos de vida para todos nós.
Vamos mesmo trocar anos de vida pela recusa em ajustar o traçado de um metro-autocarro?
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico
#Cortar #árvores #Coimbra #cortar #saúde #anos #vida #Opinião