A actriz e encenadora Cristina Carvalhal desvinculou-se do projecto de telefilmes Contado por Mulheres, da produtora Ukbar Filmes e da RTP, em solidariedade com o protesto pela falta de participação de mulheres negras, racializadas, trans ou com deficiência, revelou esta quinta-feira em comunicado.
Cristina Carvalhal era uma das 20 mulheres portuguesas convidadas, enquanto realizadoras, a participar na nova temporada daquele projecto televisivo, mas decidiu abandoná-lo na sequência de uma carta aberta, divulgada no início desta semana, com críticas à falta de representatividade, documento que subscreveu.
Em comunicado enviado à Lusa, Cristina Carvalhal diz que o projecto Contado por Mulheres visa combater “a gigante desigualdade de género no sector audiovisual”, porém considera “inaceitável que não haja mulheres negras, racializadas, trans ou com deficiência entre as realizadoras escolhidas”.
“Penso que a reparação exige que os responsáveis ouçam as pessoas discriminadas e ajam em conformidade, implementando mudanças concretas no projecto e contribuindo para uma sociedade mais justa e plural”, escreveu.
A carta aberta, divulgada na segunda-feira, foi assinada por mais de 400 pessoas, que incluem as Cléo Diára, Isabél Zuaa e Sara Carinhas, o realizador João Salaviza, o encenador Pedro Penim (director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa), a investigadora Maria João Brilhante e o Teatro Griot.
“A decisão de não integrar mulheres negras, mulheres racializadas, mulheres com deficiência e mulheres trans não é um gesto aleatório”, escrevem os signatários. “É uma escolha estratégica, política, que perpetua uma visão estreita sobre quem pode narrar, representar, imaginar comunidades, sociedades, países, mundos.”
Após uma primeira temporada estreada em 2022, a segunda temporada de Contado por Mulheres, cuja produção só deverá arrancar no próximo Inverno, foi apresentada no dia 18 de Junho no encontro Conecta Fiction & Entertainment, em Espanha. Na altura, a Ukbar Filmes indicou à Lusa que o objectivo é apostar “em histórias que promovam a integração das realizadoras mulheres no cada vez mais desafiante mercado de trabalho, promovendo a igualdade de oportunidades”. Os 20 telefilmes que a produtora deseja fazer serão “inspirados nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030″, abordando, nomeadamente, a crise na habitação, o desemprego jovem, a saúde mental, a igualdade de género ou as migrações e os refugiados.
A nova temporada contará, na realização, com Lúcia Moniz, Joana Botelho, Mónica Santos, Margarida Vila-Nova, Sandra Faleiro, Francisca Alarcão e Maria João Bastos, entre outras mulheres. Algumas das que fizeram os telefilmes da temporada anterior regressam agora ao projecto, entre as quais Ana Cunha, Rita Barbosa e Fabiana Tavares. Os primeiros dez filmes de Contado por Mulheres baseavam-se em obras literárias.
As pessoas que assinam a carta aberta questionam a RTP sobre se foram accionados “mecanismos de inclusão, consulta e transparência” no processo de selecção das realizadoras e perguntam à Ukbar Filmes se esta se encontra disponível “para assumir esta falha e tomar medidas com vista a corrigir os moldes de produção”.
“Como justificam a total exclusão em ambas as temporadas de mulheres artistas, historicamente invisibilizadas, cujos trabalhos representam um compromisso real com as questões de género e das desigualdades (muitas das quais com percursos profissionais consolidados), e que vêm contribuindo substantivamente para um sector artístico e cultural mais fecundo, plural e transformador?”, perguntam.
A Associação Cultural Nêga Filmes, a professora Inocência Mata, a argumentista Fernanda Polacow, a escritora Gisela Casimiro, os actores Hoji Fortuna, Marco Mendonça, Tita Maravilha e Welket Bungué, os realizadores João Nuno Pinto e Renée Nader Messora, a gestora cultural Maria Vlachou, a cantora Selma Uamusse e a encenadora Zia Soares estão também entre os signatários da carta aberta.
Contactada pela Lusa, a estação pública RTP reencaminhou qualquer pedido de informação para a produtora Ukbar Filmes, da qual a agência noticiosa não obteve esclarecimento. O PÚBLICO contactou Pandora Cunha Telles, co-fundadora da Ukbar Filmes, que preferiu não tecer comentários. com PÚBLICO
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