Stefan Gordon passou três anos num centro de acolhimento para pessoas em situação de sem-abrigo, em Londres, depois de um desentendimento familiar o ter deixado sem tecto. Agora, usa a sua experiência de vida para contar a história — muitas vezes invisível — de uma das zonas mais ricas da capital.
Gordon, de 31 anos, é uma das várias pessoas anteriormente sem-abrigo que foram formadas pela Unseen Tours para conduzir visitas guiadas em diferentes bairros londrinos. O objectivo da organização é combater o estigma associado à falta de habitação e valorizar o potencial das todos.
“A minha definição de sem-abrigo é uma pessoa sem casa… mas só porque alguém não tem casa, isso não quer dizer que não possa fazer coisas”, disse Gordon à Reuters, enquanto guiava um grupo no leste de Londres.
Nos séculos XVIII e XIX, esta zona — hoje o centro financeiro da capital — acolhia um grande complexo portuário construído para receber produtos como o açúcar oriundo das Caraíbas, onde pessoas escravizadas eram forçadas a trabalhar nas plantações. Os portos foram criados por e para mercadores, mas muitos dos trabalhadores recebiam salários miseráveis e viviam em condições precárias — algo com que Gordon diz identificar-se.
“Muita gente dormia em casas de alojamento, e o albergue onde eu dormia era uma casa de emergência desse género, por isso senti uma grande ligação”, contou Gordon. “Era muito, muito difícil na altura… E ainda hoje é difícil.”
Gordon, diagnosticado com autismo, vive actualmente com a mãe e é guia desde Fevereiro. Recebe 60% do valor de cada bilhete vendido, sendo o restante reinvestido na Unseen Tours, para cobrir custos operacionais e formar novos guias.
Charlotte Cassedanne, directora de comunicação do projecto, explicou que os guias, com o apoio da organização, pesquisam e desenham os seus próprios percursos, podendo incluir as suas histórias pessoais nas visitas, caso assim o desejem.
As visitas decorrem há mais de uma década e já participaram mais de 30 mil visitantes. Com seis guias formados até agora, a Unseen Tours está a angariar fundos para formar mais três.
“Quando se experiencia a falta de habitação, é como se se deixasse de ser humano… As pessoas ignoram-te todos os dias… Colocar estas pessoas no centro da narrativa ajuda-as verdadeiramente a recuperar a sua agência”, afirmou Cassedanne.
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