À beira de celebrar 25 anos, 14 dos quais de leão ao peito, o guarda-redes levou o seu 15.º troféu a A BOLA. Desfiou o novelo da sua carreira e revelou o seu maior desejo
A Taça de Portugal foi a última conquista, num jogo equilibrado, diante do Benfica, em que Bernardo Paçó esteve em destaque entre os postes. O guarda-redes do Sporting esteve na redação de A BOLA para mostrar o troféu e desfiar o novelo da sua carreira.
– Leva 14 anos a jogar no Sporting. Na formação ganhou três toféus e nos seniores soma cinco campeonatos nacionais, quatro Taças de Portugal, duas Supertaças, três Taças da Liga e uma Champions.
– Isto é o ADN do Sporting, são títulos. Pelo menos do futsal do Sporting, fomos muito habituados desde as camadas jovens que temos que ganhar, com este símbolo ao peito temos de ganhar e foi isso que temos tentado fazer até agora. Desde que estou nos seniores fomos sempre campeões nacionais e acho que é um marco importante.
– Um dérbi é sempre um dérbi. O do passado domingo foi, talvez, um dos mais equilibrados dos últimos tempos. Concorda?
- Claramente, até pelo resultado [4-3]. Apesar de termos sofrido o último golo mesmo a acabar, numa fase em que, querendo ou não, o pessoal já está numa de descontração do tipo, isto se calhar já deu. A mudança de treinador no Benfica [Cassiano Klein] contribuiu para isso, com os jogadores muito empenhados nas novas ideias, mas tentamos sempre anular aquilo que o novo treinador trouxe de bom ao Benfica e conseguimos fazê-lo tanto na Taça da Liga como e agora na Taça Portugal.
– Você e o Henrique Rafagnin tiveram papel fundamental, principalmente na primeira parte.
- Foi o período em que o Benfica teve maior caudal ofensivo. o Henrique [foi titular] teve importância enorme durante 10 minutos, com o adversário a causar muito perigo junto à nossa baliza, ele fez quatro ou cinco defesas inacreditáveis. Quando eu entro, conseguimos mudar a nossa atitude, apesar de sofrermos o primeiro golo, mas conseguimos estancar um bocado aquilo que estava a ser o poderio ofensivo do Benfica.
– Foi por isso que no final do jogo lhe entregou o seu prémio de melhor jogador em campo?
– Sim, acho que com a exibição do Henrique ele merecia muito aquele prémio, até por tudo o que tem passado no Sporting, que, às vezes, nós, guarda-redes, temos uma posição um bocado ingrata e, por vezes, somos os culpados, entre aspas, do que se passa e ele precisava deste protagonismo e desta confiança e senti que o devia fazer.
O foco principal é sempre tentar jogar pelo Sporting, é para isso que trabalho todos os dias, e a Seleção é um acréscimo, uma recompensa naquilo que eu faço no Sporting. A minha cabeça foi sempre primeiro no Sporting e depois a Seleção
– É também um sinal salutar da concorrência entre jogadores que lutam pela mesma posição?
– Sim, acho que a nossa competitividade no treino, entre os três guarda-redes, a contar com o Gonça [Gonçalo Portugal] é enorme, mas temos uma amizade e uma união muito forte e é uma competitividade muito saudável porque nos faz crescer a todos. Não nos mete confortável no lugar em que estamos e quem vê os nossos treinos não consegue definir quem é que pode jogar. É mesmo a sério isto que estou a dizer, é algo que deve ser muito difícil para o Nuno [Dias] deixar algum dos guarda-redes de fora ou decidir quem vai jogar porque os três empenham-se mesmo muito nos treinos. E acho que é por isso que estamos a colher agora os frutos desta competitividade interna que existe entre todos e que aumenta sempre a nossa qualidade.
– Falou agora do Nuno Dias e aproveito para que me ajude a ‘desmontar’ duas afirmações que ele fez após o jogo. O treinador disse que o que têm passado dava uma série para a Netflix. O que é que têm vivido?
- Temos tido algumas lesões. Até tivemos de nos reforçar no início da época logo com o Rúben [Freire], lesões que não estávamos à espera após o Mundial. Zicky Té, Pauleta, Tomás, Allan, a saída do Tatinho. Houve muitas coisas estranhas a acontecerem este ano. Estranhas por não aconteceram num ano normal. Acho que caracterizou muito bem o Nuno ao dizer que dava para uma série da Netflix porque acho que todos os jogadores tiveram que se superar um bocadinho porque cada jogador foi muito importante até agora, todos precisávamos se jogar, todos precisávamos de estar aptos. Tivemos ali dias em que nos treinos não sabíamos quem podia treinar ou não. Tivemos treinos com poucos jogadores, o que torna difícil uma semana de trabalho assim. E a gestão tem de ser feita muito bem. Na Taça houve quem jogasse com dores, por exemplo.
– Nuno Dias fez ainda questão de justificar o regresso de Rocha ao Sporting, depois de ter saído para o Brasil e ter reforçado o Benfica? Como é que o plantel o recebeu de volta?
– Para nós o Rocha foi simplesmente um profissional porque sabemos que o contexto no futsal é muito diferente do contexto no futebol. A verdade é que jogadores com a qualidade do Rocha, em Portugal, só podem jogar em dois clubes, ou no Sporting ou no Benfica. E o caso do Rocha foi como disse o mister, ele não queria sair do Sporting, mas saiu, foi para o Brasil e depois apareceu uma grande oportunidade para o Benfica e ele aceitou. Para mim nunca deixou de ser a boa pessoa que era no Sporting. Convivi muito tempo com ele também. Ganhei uma Champions juntamente com o Rocha e sabíamos que a vinda do Rocha para o Sporting era um acréscimo à qualidade da nossa equipa. Por isso vimos sempre com bons olhos e nunca pensámos nisso.
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FUTURO N.º 1 DA SELEÇÃO NACIONAL
– Em dezembro de 2023 chegou a tão desejada primeira convocatória para a Seleção Nacional. ansiava por esse momento?
– Acho que é um objetivo de toda a gente é chegar à Seleção. Era um objetivo que tinha há algum tempo, mas também nunca tinha jogado com tanta regularidade e há muitos guarda-redes portugueses com qualidade que jogam regularmente, e via sempre isso com bons olhos, nunca foi algo que eu quisesse apressar, tudo a seu tempo. Mas o foco principal era sempre tentar jogar pelo Sporting, é para isso que trabalho todos os dias, e a Seleção é um acréscimo, uma recompensa naquilo que eu faço no Sporting. A minha cabeça foi sempre primeiro no Sporting e depois a Seleção.
– O Tomás chegou lá primeiro. O seu irmão aconselhava-o a ter calma, sabendo também que era um objetivo seu?
– Sim e não. Acho que essa conversa nunca tive com ele assim diretamente, mas foi algo de que falávamos. Ele dizia-me ‘calma, vais chegar lá, tens qualidade para tal’. Mas acho que o mais importante era dar o apoio ao Tomás. O primeiro Europeu e Mundial que eles ganharam, tudo no mesmo ano, foi algo inédito a que eu assisti e que deixou-me muito orgulhoso do meu irmão e de todos os outros colegas com quem trabalhei, principalmente o Zicky Té, que damo-nos desde miúdos.
– O Bernardo é apontado como o futuro guarda-redes principal da seleção, sendo-lhe destacados pontos fortes nas principais áreas do jogo, como a reação, o posicionamento, a posição de espaço, a visão de jogo.
– Não gosto de meter as perspetivas lá em cima, porque por vezes a nossa desilusão é maior se acharmos que um dia vamos chegar lá ao topo, por isso, gosto de ir subindo pouco a pouco e não pensar no que eu posso vir a ser, é fazer gestão das expectativas para não nos desiludirmos e não nos desmotivarmos, porque depois isto começa a entrar na nossa cabeça. Eu tento ser assim, gosto de ir com calma, traçar objetivos, gosto de organizar a minha cabeça em objetivos de curto espaço, médio espaço e longo prazo e o foco é sempre no curto.
– Jogar no estrangeiro faz parte das suas ambições?
- [Pausa] Não é algo a que eu feche as portas, mas se poder jogar no Sporting para sempre é o que prefiro e o que vejo como perfeito na minha carreira.
– Fazendo uma autoavaliação, em que é que pode melhorar?
– Tenho tentado melhorar muito o meu foco, concentração e gestão do jogo em si, ou seja, para mim, se calhar em alguns jogos, o que me faltava para estar bem como estou agora, porque sinto estou num dos meus melhores momentos, era o foco e a concentração e fazer as coisas com calma. Acho que era muito precipitado, às vezes estava bem no jogo, mas depois relaxava e ficava desfocado e cometia alguns erros.
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