Depois dos 500 milhões de euros anunciados pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no início do mês, há mais um incentivo anunciado para atrair cientistas estrangeiros – e, sobretudo, os investigadores que querem abandonar os Estados Unidos. O Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês) avança com a duplicação do financiamento para apoiar a criação de novos laboratórios por investigadores que venham trabalhar para a Europa, oferecendo agora até dois milhões de euros.
Mais concretamente, o exemplo dado pelo ERC permite ter uma noção clara do benefício financeiro para quem procura mudar de continente. Um investigador que vença o concurso para uma bolsa avançada do ERC – é sempre necessário vencer os concursos internacionais – pode ganhar até 2,5 milhões de euros para desenvolver o seu projecto na Europa. No entanto, há um apoio adicional para criar o laboratório, contratar a sua equipa e até para equipamento que agora pode ir até dois milhões de euros (o máximo anterior era um milhão de euros). Ou seja, durante a vigência da bolsa (cinco anos), os investigadores podem receber até 4,5 milhões de euros para desenvolver ciência e criar a sua equipa de investigação.
O ERC é a casa das bolsas milionárias europeias para a ciência fundamental, financiando quase mil projectos todos os anos. O seu orçamento é, actualmente, de cerca de 16 mil milhões de euros, mas a presidente da organização, Maria Leptin, já defendeu ao PÚBLICO a necessidade de duplicar o orçamento do ERC – bem como o orçamento europeu para a investigação científica.
A verba destinada ao apoio adicional pode abranger todos os cientistas, não apenas os que mudam de continente. No entanto, este dinheiro tende a beneficiar quem tem de construir um laboratório ou uma equipa de investigação de raiz, sendo mais aplicável aos investigadores que começam quase do zero. Além disso, o momento político internacional é convidativo a estas acções de atracção de talento, como o programa “Escolher Europa”, anunciado pela Comissão Europeia, e que terá 500 milhões de euros para captar cientistas para a Europa. Nesse anúncio, Ursula von der Leyen já tinha indicado que o ERC duplicaria este subsídio de reinstalação dos investigadores que vêm para a União Europeia.
O desinvestimento, as políticas públicas e a perseguição às universidades nos Estados Unidos aumentaram a preocupação dos cientistas a trabalhar no país governado por Donald Trump. Um inquérito conduzido pela revista Nature indica que 75% dos cientistas norte-americanos ponderam emigrar – e a Europa está entre os destinos predilectos.
“O Conselho Científico do ERC aumentou o financiamento para tentar ajudar os investigadores radicados nos Estados Unidos, mas está, naturalmente, aberto a quem quiser vir para a Europa”, explica Maria Leptin, citada em comunicado. “Desde o seu início, o ERC oferece oportunidades atractivas para os cientistas de topo, independentemente da nacionalidade, para fazerem investigação na Europa. Isto anda de mãos dadas com a tradição europeia de abertura e liberdade científica”, acrescenta, contrapondo a liberdade científica aos ataques às universidades norte-americanas.
Os responsáveis do ERC reforçam que não haverá distinção nos concursos entre quem vem de outros continentes e os cientistas europeus, procurando apenas seleccionar os melhores projectos nas várias bolsas milionárias que financiam anualmente. O próximo concurso, destinado a bolsas avançadas (ou seja, já para investigadores principais e com um trajecto científico relevante) abre na próxima semana, a 22 de Maio.
Os dois milhões de euros de verba adicional serão mantidos pelo menos até 2027, em três bolsas para as quais o ERC abre concursos anualmente – bolsas de iniciação, de consolidação e avançadas.
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