O pagamento de comissões ilegais relacionadas com a venda, em 2018, da sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), um prédio situado no centro de Lisboa, desencadeou esta terça-feira uma mega-operação da Polícia Judiciária que tem entre os principais suspeitos Paulo Lourenço, já arguido, ex-secretário-geral da FPF e antigo assessor de Fernando Gomes, anterior presidente da federação, e o ex-deputado socialista António Gameiro.
O negócio imobiliário foi feito quando estavam à frente da FPF Fernando Gomes e Tiago Craveiro, mas o director nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, já esclareceu que os antigos dirigentes “não são visados nesta operação”, baptizada pelas autoridades como Mais-Valia e levada a cabo pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ. Estão em causa suspeitas do crime de corrupção, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio e fraude fiscal.
Situada nas imediações do Largo do Rato, no número 58 da Rua Alexandre Herculano, a anterior sede da Federação Portuguesa de Futebol foi vendida por 11,250 milhões de euros, tendo gerado, de acordo com o relatório e contas da organização referente a 2017/18, uma mais-valia de 2,765 milhões de euros. Foi transformado num hotel com 77 quartos pelo grupo alemão Numa Stays e abriu no ano passado.
A antiga sede da Federação Portuguesa de Futebol, no centro de Lisboa
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A transacção imobiliária foi intermediada por várias empresas e também por escritórios de advogados. As suspeitas dos investigadores estão centradas no então assessor de Fernando Gomes, Paulo Lourenço, advogado de profissão e sócio do escritório QRLC & Associados. O prédio terá começado por ser vendido a uma firma unipessoal da mulher de António Gameiro, a Softbutterfly, sediada em Pêras Ruivas, no concelho de Ourém.
Quando ainda era parlamentar, em 2021, Gameiro, que estava em São Bento há cinco legislaturas, viu a Assembleia da República levantar-lhe a imunidade por causa do seu alegado envolvimento na Operação Triângulo, no âmbito da qual foi detida a presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, Conceição Cabrita. Gameiro acabou por ser acusado nesse processo igualmente relacionado com criminalidade económico-financeira no sector imobiliário. Foi o fim da sua candidatura à Câmara de Ourém.
Há pouco mais de uma década o socialista presidiu ao Conselho de Fiscalização do Sistema Integrado de Informação Criminal.
O segundo arguido será outro empresário, Carlos Marques, havendo ainda suspeitas de um outro homem de negócios, José António Alves Inácio, ter igualmente tido parte no negócio, através da sua imobiliária Excellent Dimension, sediada em Alenquer.
Esta terça-feira a Judiciária realizou duas dezenas de buscas a pessoas singulares, pessoas colectivas, a sociedades de advogados. A residência de Paulo Lourenço também foi visitada pelos inspectores, tal como a actual sede da FPF, no vizinho concelho de Oeiras, na chamada Cidade do Futebol. A investigação começou em 2021 e é dirigida pelo Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, tendo as diligências sido executadas por 65 inspectores e 15 especialistas de polícia científica da PJ, contando ainda com a participação de cinco juízes de instrução criminal e seis magistrados do Ministério Público. Alvo de buscas foi igualmente uma instituição bancária.
A direcção da Federação Portuguesa de Futebol reagiu através de comunicado, dizendo que “foi surpreendida” com a realização de buscas na sua sede, na Cidade do Futebol. Afirma que a investigação envolve “negócios relativos a anteriores mandatos, nomeadamente aos anos entre 2016 e 2020”.
Em reacção aos acontecimentos, a FPF, agora liderada por Pedro Proença, adiantou que “intensificará as medidas de auditoria entretanto iniciadas pela consultora internacional PWC – Price Waterhouse Coopers no passado dia 17 de Março” e que se vai constituir assistente “em todo e qualquer processos que lesem os interesses patrimoniais e/ou reputacionais da FPF”.
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