O antigo governante José Vieira da Silva defende que o crescimento da imigração em Portugal, o “terceiro país mais envelhecido da Europa”, é uma “oportunidade histórica”. E lamenta, em entrevista ao Negócios e à Antena 1, que Luís Montenegro e o seu Governo tenham feito “uma aliança efetiva com a extrema direita”.
No programa Conversa Capital, o antigo ministro do Trabalho e da Segurança Social de José Sócrates e António Costa considera que Portugal só “tem duas formas” de reagir a este fenómeno: “Ou olha para este movimento como uma oportunidade ou diaboliza os problemas”.
“Restam poucas dúvidas que, por razões que a razão desconhece, Luís Montenegro e o seu Governo acabaram de fazer uma aliança efetiva com a extrema-direita. E a extrema-direita em Portugal, como em muitos outros países, tem um discurso que se centra na xenofobia, muitas vezes no racismo, e na culpabilização de todos os males do mundo na imigração“, afirmou Vieira da Silva.
O economista e professor universitário considera que “as consequências e os efeitos” das restrições à imigração, em parte já aprovadas com os votos favoráveis dos partidos do Governo e do Chega e a abstenção da Iniciativa Liberal, “poderão ser múltiplos”.
“O mais direto, e provavelmente aquilo que mais facilmente virá à tona da água, serão alguns bloqueios no mercado de trabalho“, em particular “naquelas atividades que têm ciclos produtivos ao longo do ano que são dificilmente antecipáveis”.
“Poderá haver dificuldades com consequências no custo do trabalho, com consequências em algum bloqueio mesmo de algumas atividades”, como a agricultura. Numa referência ao encerramento de um hotel em Elvas por falta de pessoal, o antigo ministro socialista avisa que há o risco de haver mais casos como esse.
Na entrevista ao jornal e à rádio, Vieira da Silva considera que o crescimento da imigração, com o seu contributo para o emprego e para o crescimento económico, é “a segunda maior mudança estrutural” em Portugal, a seguir ao aumento das qualificações na Educação. E sublinha que nos últimos 10 anos, entre 2014 e 2024, o número de trabalhadores dependentes a descontar para a Segurança Social cresceu em mais de um milhão de pessoas, o que resulta, em parte, da imigração.
“É uma mudança drástica. É uma das maiores mudanças estruturais que nós vivemos na nossa economia e também na nossa sociedade. Pensar que isso poderia ser feito sem tensões é um bocadinho de otimismo a mais”. Mas a resposta dos diferentes sectores económicos “foi rápida” e “diminuir essas tensões é absolutamente essencial”, defende.
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