Já vimos este cenário, anteriormente, aquando de outras eleições importantes, como as americanas, britânicas, indianas e até portuguesas. Agora, com as parlamentares alemãs a acontecerem dentro de poucos dias, a Inteligência Artificial (IA) está a ser um trunfo da extrema-direita do país. De que forma o partido Alternativa para a Alemanha (em alemão, AfD) está a utilizar a tecnologia?
Anteriormente, enquanto vários países caminhavam para eleições importantes, o mundo conheceu uma finalidade verdadeiramente problemática da IA: minar a opinião pública.
Aliás, conforme vimos, os políticos estão "no topo da pirâmide", quando se trata de desinformação impulsionada pela IA, segundo Martina Larkin, executiva-chefe do Project Liberty, uma organização sem fins lucrativos que procura promover a segurança na Internet.
Agora, os conteúdos gerados por IA estão a ajudar a extrema-direita alemã a tornar as suas visões de futuro surpreendentemente realistas: de um lado, o futuro idílico e nostálgico que promete trazer, se ganhar as eleições; do outro, o futuro distópico para o qual o país será arrastado, caso perca as eleições.
Trata-se de mostrar como seria a vida com o AfD na Alemanha e como seria comparada com se não chegássemos ao poder. Nós não apenas descrevemos o que queremos em palavras. Ilustramo-lo e apresentamo-lo - e, claro, por vezes amplificamo-lo.
Explicou Norbert Kleinwächter, um parlamentar do AfD, ao POLITICO, numa clara amostra de que os líderes do partido são abertos relativamente à utilização da IA.
Weißt Du noch, wie schön Deutschland einmal war? Und glaubst Du immer noch, dass ausgerechnet die CDU all die Probleme löst, die sie selbst verursacht hat? Deshalb am 23. Februar #AfD! pic.twitter.com/gE4n16OvVH
— Alice Weidel (@Alice_Weidel) January 5, 2025
O site oficial do partido alemão apresenta um mineiro de carvão com capacete, uma mulher despreocupada a dançar, um homem a rir e uma mulher idosa sorridente; todos eles gerados por IA. Estas imagens, que retratam o padrão associado aos alemães que apoiam o AfD, são as que ocupam grande parte do conteúdo gerado por IA utilizado pelo partido.
Indo além do retrato artificial dos seus apoiantes, o partido está a utilizar conteúdo gerado por IA para dar vida à sua promessa de fazer regressar o país a uma época ideal e, segundo defende, melhor, bem como para evitar o que considera ser um futuro problemático, provocado pelo aumento da imigração.
Os vídeos gerados por IA funcionam como máquinas de nostalgia e amplificadores de clichés emocionais, com imagens que fazem referência à estética histórica dos séculos XIX e XX.
Teorizou Marcus Bösch, investigador da Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo.
Aliás, um vídeo do AfD no estado alemão de Brandenburgo, publicado antes das eleições legislativas do outono passado, remete o espetador para uma suposta idade de ouro, onde se ouve:
Os vossos antepassados tinham uma pátria em Brandeburgo - foi aqui que o vosso avô levou a vossa avó a dançar, foi aqui que a vossa mãe foi para o jardim de infância, foi aqui que o vosso avô construiu a casa dele. Foi aqui que os teus pais te trouxeram ao mundo e fizeram de ti a pessoa que és hoje.
Na perspetiva de Norbert Kleinwächter, a abordagem da extrema-direita alemã não é tanto uma máquina de nostalgia, mas antes "um telescópio para o futuro".
Não se trata de dizer algo negativo sobre um determinado grupo ou uma determinada pessoa ou algo do género. Não é esse o objetivo; o objetivo é pôr o dedo no ponto sensível e apresentá-lo visualmente.
Além dos conteúdos gerados pelo próprio partido, há outros a serem criados pelos utilizadores e os influenciadores que o apoiam, que publicam imagens e vídeos nas redes sociais, como o TikTok, Instagram, Facebook e X.
Segundo o investigador da Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo, "há todo um exército de fãs envolvido numa tentativa de propaganda participativa de longo alcance e eficaz [...] as mensagens são amplificadas e emocionalmente carregadas através de edições de fãs, com os apoiantes a inundarem as secções de comentários".
Alguns utilizadores até criaram contas completas de influenciadores de IA, no sentido de impulsionar o partido.
Para Maik Fielitz, investigador de movimentos de extrema-direita no Instituto para a Democracia e Sociedade Civil, em Jena, a abordagem do AfD à IA nestas eleições revela uma caraterística fundamental do partido: a sua ligação por vezes ténue à verdade, sendo "bastante óbvio que quer gerar uma atitude relativamente à IA, a de que não importa se é real ou não".
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