Para quem tem dificuldades no processamento de informação sensorial, o sonho de entrar num estádio de futebol pode transformar-se em pesadelo numa questão de segundos. Os assobios, os gritos e o volume das colunas de som são um verdadeiro tsunami de sensações, impeditivo para centenas de pessoas. Porém, no espaço “Inzone” do Estádio do Dragão, os ruídos de 50 mil espectadores são “abafados” pelo vidro duplo fortificado, uma protecção que permite a várias crianças e jovens verem os ídolos ao vivo e a cores.
A “Inzone”, um espaço que resulta da parceria entre a Betano, o FC Porto e a Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto é composta por três espaços. O primeiro é a sala insonorizada com vista directa para o relvado. É neste local inicial que as crianças e jovens começam a ver os jogos na primeira visita, numa introdução mais suave à azáfama do Estádio do Dragão. Há um trampolim e brinquedos espalhados para facilitar a ambientação.
O segundo local de adaptação é já no exterior, mas ainda afastado dos restantes adeptos. O terceiro e último é já no interior das bancadas, na derradeira fila da bancada Nascente. A qualquer momento, os jovens podem transitar entre os três espaços, para reduzir ou aumentar a experiência sensorial. Inaugurada em Fevereiro de 2024, este projecto acolheu 376 adeptos na temporada 2024-25.
“O barulho às vezes incomoda, mas eles têm a possibilidade de voltarem para aqui [sala insonorizada] e baixarem o nível. Tem uma vista fantástica para o relvado, é mesmo muito bom”, explica Sónia Rebelo, mãe de Guilherme, um jovem de 24 anos que assiste aos jogos na “Inzone”.
Guilherme já passa a maior parte do tempo no terceiro espaço da “Inzone”, junto aos restantes adeptos portistas. Os milhares de assobios que precedem um penálti contra o FC Porto não o parecem afectar, nem tampouco os festejos após a defesa de Diogo Costa. Tal como os companheiros de bancada, levanta-se, estica o cachecol e festeja o feito do guardião “azul e branco”.
Ainda antes de sair do Estádio do Dragão, Sónia já está a pensar no próximo jogo. A procura é grande e as vagas limitadas, sendo preciso um pouco de sorte para ser escolhida para o encontro seguinte. Nas semanas em que são acolhidas associações, o espaço “Inzone” é especificamente reservado. No total – e para evitar sobrelotação do espaço – podem ser acolhidas entre 30 pessoas, repartidas entre os três espaços. A gestão é feita por Daniela Pinto, terapeuta ocupacional que trabalha para os “dragões”, que acolhe pessoas em diferentes estados de adaptação aos estímulos sensoriais do estádio.
“Geralmente, fazemos essa distribuição por pessoas com necessidades diversificadas, para não estarem todos na mesma fase. Não podemos ter as 30 pessoas na mesma sala, o ideal é ter uma distribuição pelos três espaços”, descreve a responsável portista.
“Normalmente, tento não lhe criar ansiedade antecipadamente, senão ele anda a semana toda a falar disso. Só lhe digo que vamos mais próximo do dia. Ele quando sai daqui já pergunta à Daniela [terapeuta do FC Porto]: ‘Posso vir outra vez, não posso’? Começa logo a preparar o terreno”, diz a mãe de Guilherme entre gargalhadas.
Minutos depois, João Ribeiro entra com os gémeos Diogo e Afonso. Fez os 250 quilómetros que separam o Cartaxo do Porto, na expectativa de que a segunda experiência na “Inzone” fosse tão boa quanto a primeira. A visita de Janeiro foi a primeira experiência em que a família conseguiu estar num estádio de futebol e seguir o jogo sem problemas. Afonso é extremamente sensível ao ruído, permanecendo na sala insonorizada durante todo o jogo.
“Antes de existir este espaço, tínhamos de vir sozinhos e deixava os meus filhos com a minha sogra. Eles gostam disto, quando vínhamos a chegar apontou para o Estádio e disse: ‘Ali, ali’. Se conseguirmos, estaremos cá para o ano. Depende da disponibilidade da sala”, explica João.
Os bilhetes para o espaço “Inzone” podem ser comprados na bilheteira online. Depois da compra, é feito um contacto pela terapeuta Daniela Pinto, para conhecimento detalhado do caso e das necessidades.
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