Os primeiros 20 anos da vida de Sérgio Godinho foram passados no Porto, cidade à qual tem regressado não raras vezes, muitas delas a pretexto da sua música. Mas não são apenas as canções que levam a Feira do Livro do Porto a escolhê-lo como homenageado na edição deste ano, que começa no dia 22 de Agosto e vai até 7 de Setembro.
Homem de “várias artes”, Sérgio Godinho concede que é a música que lhe rende maior reconhecimento, embora fosse redutor ficar por aí. Tem-se debruçado sobre poemas, romances, contos e argumentos, uma obra “que se vai consolidando” e que lhe dá “muito gozo”, embora por razões diferentes, disse aos jornalistas.
Nesta quarta-feira, esteve na apresentação da programação de uma feira do livro que começa e acaba à sombra das suas palavras, nos Jardins do Palácio de Cristal.
Tal como os autores que foram homenageados antes dele, também Sérgio Godinho emprestará o seu nome a uma das tílias que bordejam a alameda dos jardins, lembrou o comissário da homenagem, Francisco José Viegas. O baptismo dá-se a 23 de Agosto, dia em que o autor recebe também a medalha da cidade, um duplo reconhecimento que sai das mãos do autarca Rui Moreira.
No dia 7 de Setembro, o fim da programação desta edição da Feira do Livro é assinalado com um concerto de Sérgio Godinho e os Assessores, um momento “vigoroso e emotivo”, nas palavras do próprio, que conta com a convidada especial Manuela Azevedo.
“Nestes jardins que tão bem conheço, vai ser bom habitá-los com música”, disse. Pelo meio, a 30 de Agosto, um dia antes de o homenageado fazer 80 anos, é apresentado o seu mais recente livro de contos, Como Se Não Houvesse Amanhã (Quetzal).
Mas há muito mais para ler, ouvir e ver em redor do Pavilhão Rosa Mota, neste festival literário que é “um sítio onde pousar a cabeça”, apontou Francisco José Viegas, para lembrar o poeta Manuel António Pina, também ele, alvo de celebração na edição de 2023.
Há conversas, apresentações de livros, concertos e sessões de cinema. Na edição deste ano, a “festa onde cabe todo o mundo”, como descreveu o coordenador da feira, João Gesta, recebe autores como José Gil, João Luís Barreto Guimarães, Alberto Manguel ou Lídia Jorge. Gesta, que tem trabalhado na programação da feira desde 2014, pediu emprestadas as palavras de uma das mais célebres músicas de Sérgio Godinho para dizer que também “a liberdade vai passar por aqui”.
Na programação cabem sessões de cinema que também estão relacionadas com o autor de À Queima Roupa. A começar pela exibição de Kilas, o Mau da Fita, de José Fonseca e Costa, com argumento de Sérgio Godinho, ou pela projecção de Jules e Jim, de François Truffaut, filme da predilecção do autor.
Nos concertos, o palco é montado para nomes como B Fachada, Luca Argel, Jorge Palma, Luís Severo, Manel Cruz, entre outros.
Fim de ciclo
O inventário de homenageados pela Feira do Livro do Porto demonstra que ser da casa não é condição essencial para a escolha (a poeta Ana Luísa Amaral nasceu em Lisboa, embora se tenha mudado para ao Porto ainda criança; Eduardo Lourenço era de São Pedro do Rio Seco, aldeia raiana do concelho de Almeida).
Mas uma ligação à cidade não prejudica. Neste ponto, Rui Moreira obrigou-se a uma declaração de interesses: é amigo e admirador de Sérgio Godinho e, embora o autarca seja uma dúzia de anos mais novo, viveram na mesma rua, na juventude.
A apresentação nesta quarta-feira significa o fim de um ritual estival que se impunha antes de cada Feira do Livro, no qual Rui Moreira, acompanhado pelo programador e pelo comissário da homenagem ao autor designado, lança a edição. O autarca, já a matutar uma candidatura presidencial, deixará a câmara, após as eleições de 12 de Outubro, por ter atingido o limite de mandatos.
Sobre as eleições para Belém, Rui Moreira pouco disse (pondera porque foi encorajado e porque “as circunstâncias mudaram”). Sobre o modelo da feira, a sua saída de cena obriga a um balanço.
Quando entrou na autarquia, o evento que se realizava há 80 anos teve um hiato em 2013, por conta de um diferendo entre a autarquia e a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). A câmara tomou conta da organização, o que “foi uma aposta ganha”, considera.
“É reconfortante ver que o modelo que há 11 anos adoptámos para a Feira do Livro do Porto, não só se consolidou e popularizou, como tem sabido reinventar-se continuamente”, disse. A edição deste ano “não irá acrescentar um grama à popularidade de Sérgio Godinho enquanto compositor, músico e cantor”, notou Moreira, mas pode contribuir para que mais leitores conheçam a sua obra ficcional.
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