Desde os 25 anos profissionalmente lançado na indústria musical, Fernando Cabral percebeu, a partir de um estágio na VP Recordas, apontada como a maior editora mundial de reggae, que poderia fazer carreira entre sonoridades jamaicanas.
A experiência, vivida em Nova Iorque, foi acompanhada de uma rotina especial: “Ia para Jamaica todos os dias”, recorda o programador musical e produtor de eventos, situando a conversa na estação de metro de Jamaica, em Queens, sede da editora.
“Eu estava num armazém com os discos todos, com vedetas de reggae a entrar lá todos os dias. Foi o início de tudo para mim”.
José Fonseca Fernandes
O circuito de espetáculos, festas “e tudo à grande” teve como reverso da medalha uma cambalhota de excessos, interrompida com a chegada da pandemia.
“O Covid foi a minha salvação, porque parou o meu trabalho”, conta Fernando, assumindo, sem tabus, todas as escolhas: “Não tenho problemas em dizer: tive problemas de adição, e fiz um tratamento”.
A mudança aconteceu aos 44 anos, marcados por várias lições. “Gostava de ter entrado em sobriedade mais cedo, mas aprendi muito e tive uma vida espetacular. Agora é olhar para a frente”.
José Fonseca Fernandes
Pai de Marley e de Makeda, nomes escolhidos como homenagens ao ícone do reggae e à rainha de Sabá, Fernando sublinha a importância de honrar a herança Cabralista . “O legado que tenho na minha vida é de que não há impossíveis. Tudo o que eu quero, vou atrás”.
Depois de lançar, com um amigo, a marca de roupa VIP – Very Important Preto, o programador musical quer expandir a ideia a um projeto de intervenção social, e de libertação das mentes.
“O povo africano e o povo negro levou com tantos anos de ‘não prestas, és abaixo de nós’ que, de alguma forma, isso entrou na cabeça das pessoas”.
José Fonseca Fernandes
Empenhado em transformar essa realidade, Fernando quer lançar um programa de formação de jovens, que abra novos caminhos de afirmação e valorização da negritude, já inaugurados com as t-shirts, hoodies e bonés da sua marca.
“Raramente o preto é muito importante. O patinho feio é preto, o gato que dá azar é preto, tudo que é preto é mau. Então, pensei: por que não fazer uma cena que exaltasse [o preto]?”.
A resposta veste-se com um apelo original, sem nunca despir ninguém. “A minha marca chama-se Very Important Preto. Podia ser Very Important Branco, Very Important Chinês, Very Important qualquer um. Todos somos pessoas incríveis e muito importantes”.
Ouça esta conversa no episódio desta semana d’ O Tal Podcast, conduzido por Georgina Angélica e Paula Cardoso.
José Fonseca Fernandes
O Tal Podcast é um podcast semanal dedicado às relações interpessoais e aos afectos humanos. Através de conversas profundas com convidados notáveis, o podcast revela uma narrativa original e abre as portas a uma comunidade internacional de reflexão e de interesse.
Pioneiro na cultura negra e afro-descendente em Portugal, é um espaço onde cabem todas as vidas, emocionalmente ligadas por experiências de provação e histórias de humanização.
Em longas conversas sem guião, Georgina Angélica e Paula Cardoso apresentam convidados especiais, em novos episódios, todas as quintas-feiras nos sites do Expresso, SIC e SIC Notícias ou qualquer plataforma de podcasts.
Tiago Pereira Santos com Nuno Fox
Georgina Angélica é especialista em Educação e Intervenção Social. Atua como educadora, formadora e palestrante, com mais de 20 anos de experiência em Portugal, Inglaterra e Angola.
Paula Cardoso é fundadora da rede Afrolink e autora da série de livros infantis ‘Força Africana’. É ainda apresentadora do programa de TV “Rumos” , transmitido na RTP África.
Ouça aqui mais episódios d’O Tal Podcast:
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