Visivelmente mais magro e rodeado por cinco elementos fortemente armados do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP), Fernando Madureira, detido há um ano e dois meses, deu entrada na sala de audiência no Tribunal de São João Novo. Com um piscar de olho para a mulher, Sandra, também ela arguida na Operação Pretoriano, sentou-se e aguardou em silêncio o início da sessão.
Foi o primeiro arguido a falar e negou a intervenção da administração no alegado plano orquestrado pelos Super Dragões para esmagar a oposição a Pinto da Costa. Para Fernando Madureira, a Assembleia-Geral (AG) que culminou em violência a 13 de Novembro de 2023 era “como umas primárias”, com o antigo líder dos Super Dragões a dizer que André Villas-Boas usaria a reunião para “medir o pulso” para uma eventual candidatura.
“Eu mobilizei os Super Dragões e pessoas conhecidas para irem apoiar o Pinto da Costa à AG, sim senhora. Da forma como o André mobilizou os apoiantes dele”, admitiu Madureira, questionado pela juíza se houve um plano concertado nessa noite.
O antigo líder da principal claque “azul e branca” é acusado de ser o cabecilha de um plano de violência e intimidação. Madureira diz que viu as primeiras altercações e que ficou “extremamente nervoso, angustiado e triste” por ver sócios contra sócios. Nesse momento, reconhece ter perdido as estribeiras e, depois de pedir autorização à juíza para repetir o “palavreado ordinário”, adiantou as declarações polémicas.
“É esta merda que vocês querem para presidente? Este gajo veio aqui à porta, deu uma entrevista e agora está com os colhões sentados no sofá”, relembra ter dito, virado para um suposto apoiante de André Villas-Boas que estava no Dragão Arena.
Cristiana Carvalho, advogada de Fernando Saul, antigo oficial de ligação aos adeptos do FC Porto, foi a primeira a tomar a palavra. Com palavras duras na declaração introdutória, a causídica diz que a acusação é “terrorismo jurídico”, chegando mesmo a dizer que “envergonharia qualquer jovem caloiro do curso de Direito”.
“O Ministério Público diz que os arguidos queriam que houvesse a alteração dos estatutos. Que elementos probatórios têm para dizer isto? O Ministério Público leu a mente dos arguidos?”, questiona a advogada.
Os restantes advogados criticaram também a acusação e decisão instrutória, rejeitando a ideia de ter existido co-autoria e um plano concertado entre os 12 arguidos.
A Operação Pretoriano investiga os incidentes de violência ocorridos na assembleia geral extraordinária do FC Porto de Novembro de 2023. O Ministério Público acusa o ex-líder dos Super Dragões, a mulher e vários outros elementos da claque de terem montado um clima de medo e intimidação que culminou em agressões a sócios portistas.
No total, foram constituídos 12 arguidos e todos respondem pelos mesmos 31 crimes: 19 de coacção agravada; sete de ofensa à integridade física no âmbito de espectáculo desportivo; três de atentado à liberdade de informação; um de instigação pública a um crime e outro de arremesso de objecto.
Fernando Madureira é o mais mediático do grupo. O homem de 49 anos foi líder da principal claque do FC Porto durante cerca de duas décadas, tornando-se uma das caras mais conhecidas do clube fora das quatro linhas. Começou a exibir um estilo de vida luxuoso, com carros topo de gama, férias de luxo e casas.
Além da violência na Operação Pretoriano, as autoridades investigam ainda um alegado esquema de bilhetes que Madureira liderava. A Operação Bilhete Dourado tem como ponto principal os ingressos cedidos pelo FC Porto ao abrigo do protocolo entre clube e claque para a venda a preços inflacionados. Há ainda uma terceira investigação que visa o antigo líder da claque, relativa a suspeitas de fraude fiscal que serviriam para mascarar estes supostos lucros ilícitos.
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