O ex-ministro das Finanças de António Costa, Fernando Medina, assumiu nesta quinta-feira à noite que ponderou candidatar-se à liderança do Partido Socialista, mas decidiu não fazer porque discorda do caminho que está a ser trilhado para esse processo interno. “Não serei candidato a secretário-geral do Partido Socialista”, afirmou o ainda deputado socialista no canal Now, onde tem um espaço de comentário semanal, quando questionado se já tinha decidido o que vai fazer.
Fernando Medina contou que tomou essa decisão depois de ter conversado com Mariana Vieira da Silva, Duarte Cordeiro e Ana Catarina Mendes (nem o faria sem essa “partilha colectiva”, afirmou), e disse que também nenhum deles irá avançar com uma candidatura ― o que PÚBLICO confirmou entretanto junto de fontes socialistas. “É um processo que não será disputado por nenhuma das principais figuras com quem eu tenha falado”, admitiu. Com esta tomada de posição, ganha corpo uma candidatura única de José Luís Carneiro, adversário de Pedro Nuno Santos nas últimas eleições internas, que já assumiu a disponibilidade para avançar.
“Eu defendi, depois das eleições de domingo, que o PS deveria fazer uma reflexão profunda e muito lúcida e fria sobre os resultados eleitorais, sobre o novo quadro político que se coloca e que é particularmente exigente para o PS e para a democracia portuguesa. Isso implicava que o partido tivesse um tempo dilatado de debate, conversa e análise sobre a situação, sobre o que aconteceu, a razão [do mau resultado] e qual a melhor forma de [o partido] servir o país”, descreveu. Acrescentou que devia ser um debate “despessoalizado das candidaturas” e que não levasse a uma eleição directa “divisiva” que prejudicasse o desempenho nas autárquicas.
O passo já dado por José Luís Carneiro foi considerado por Medina ― sem o nomear directamente ― como precipitado, ao argumentar que “o lançamento de uma candidatura imediatamente na segunda-feira iniciou um processo interno de contagem de espingardas que inviabiliza que esse debate profundo se faça antes de uma eleição directa”.
Fernando Medina era um dos nomes mais apontados para uma possível candidatura ao lugar de secretário-geral que Pedro Nuno Santos anunciou, na noite eleitoral, que deixaria livre o mais depressa possível. Isso irá acontecer na reunião nacional deste sábado, na qual os socialistas vão discutir e votar a proposta do presidente Carlos César para que as eleições directas se realizem em finais de Junho ou no primeiro fim-de-semana de Julho.
“Só faz sentido as pessoas apresentarem-se, mesmo que com sacrifício pessoal, se for para resolver problemas e melhorar situações, e não causar problemas ou piorar situações. Tornou-se evidente que (…) não seria relevante e útil” uma candidatura, apontou Medina, procurando explicar porque recuou no anúncio que fizera há dois meses de não querer integrar as listas de candidatos e de deixar cargos políticos executivos.
A sua reflexão de três dias ― que incluiu uma reunião com Pedro Nuno Santos na terça-feira à noite ― foi provocada pela “dimensão da derrota” do PS no domingo. “Aritmeticamente, não é o pior resultado da história do PS, mas politicamente é porque ele resulta da emergência de uma força de extrema-direita com consistência. É um desafio, porventura dos mais exigentes, que o partido tem para enfrentar nas próximas décadas. (…) Foi só e exclusivamente nesse quadro que aceitei [fazer] a reflexão” sobre uma candidatura, disse, mas que rapidamente se tornou “inútil” tendo em conta o avanço de José Luís Carneiro.
Essa “contagem acelerada de espingardas” impossibilita que se discutam “matérias de natureza estratégica, da natureza da composição e da forma de gestão das direcções, da sua composição e de que elementos estão em melhores condições de servir o partido em determinada altura”, argumentou. Medina fez questão de salientar que esta sua avaliação e decisão “não põe em causa nenhum mérito” de José Luís Carneiro que, aliás, apoiou em Dezembro de 2023 na corrida à liderança contra Pedro Nuno Santos.
O antigo ministro das Finanças que chegou a ser porta-voz do partido há dez anos avisou que o PS tem agora dois desafios: o de se credibilizar junto dos portugueses como partido e com uma personalidade que possa desempenhar as funções de primeiro-ministro, assim como ter uma bolsa de personalidades aptas para compor um Governo; e o de equilibrar as funções de partido da oposição com as de assegurar condições de governabilidade”. Ou seja, colocar o PS “enquanto factor de estabilidade, de apoio à governabilidade e ao mesmo tempo como força de um projecto alternativo e de oposição ao actual Governo”.
Medina defendeu mesmo que o PS deve votar contra a moção de rejeição ao programa do Governo já anunciada pelo PCP e “deve viabilizar um orçamento do Estado”, a menos que contenha propostas que sejam totalmente incompatíveis ou que “choquem de frente com os valores fundamentais do PS”, nomeadamente o sistema público de pensões ou a “boa gestão das contas públicas”.
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