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Físicos acreditavam que a transição super-radiante era impossível. Estavam enganados…

O mundo da física quântica é notoriamente contraintuitivo e subatómico com leis que desafiam a nossa perceção quotidiana. Durante meio século, um fenómeno específico, a transição de fase super-radiante, permaneceu uma previsão teórica elusiva, considerada por muitos como experimentalmente inalcançável. Mas parece não ser bem assim.

A procura de meio século pela transição super-radiante

Em 1973, os físicos Klaus Hepp e Elliott H. Lieb propuseram a existência da transição de fase super-radiante, um mecanismo quântico que, apesar de teoricamente sólido, escapou à observação experimental durante mais de 50 anos.

A dificuldade reside na complexidade inerente ao estudo do mundo subatómico, onde as regras clássicas da física não se aplicam e a observação direta é um desafio monumental. A citação de Richard Feynman, "Se acha que compreende a mecânica quântica, é porque não a compreende", continua a ecoar a profundidade deste campo.

Mas o que é esta transição? Imagine um sistema de partículas, como átomos, que normalmente interagem fracamente e de forma desorganizada. Sob condições específicas, esta transição representa uma mudança abrupta, o que leva a um grande número dessas partículas a sincronizar o seu comportamento, atuando em uníssono.

Essencialmente, passam de um estado descoordenado para um estado altamente coerente, formando um novo estado da matéria com propriedades emergentes e, por vezes, inesperadas do ponto de vista macroscópico.

O experimento que tornou o teórico real

A longa espera terminou recentemente, como detalhado num artigo publicado na prestigiada revista Science Advances a 4 de abril. Uma colaboração internacional de investigadores, incluindo cientistas da Universidade Rice (EUA), Universidade de Xangai (China), Laboratório Nacional Ames da NASA (EUA) e Universidade Nacional de Singapura, conseguiu finalmente observar este fenómeno de forma direta.

Para alcançar este marco, a equipa utilizou um cristal especialmente concebido, composto por érbio, ferro e oxigénio. Este material foi submetido a condições extremas: foi arrefecido a uma temperatura de -271,7 graus Celsius, muito próxima do zero absoluto, e exposto a um campo magnético extraordinariamente intenso de 7 Tesla - mais de 100.000 vezes superior ao campo magnético terrestre.

O objetivo destas condições rigorosas era induzir a transição de fase super-radiante através do acoplamento de uma propriedade fundamental das partículas: o spin.

O spin é uma propriedade quântica intrínseca das partículas elementares, tal como a carga elétrica. Embora muitas vezes se utilize a analogia de uma rotação para fins didáticos (derivada do seu momento angular), é crucial entender que o spin é um fenómeno puramente quântico, sem um equivalente exato no mundo macroscópico.

A sua existência foi confirmada experimentalmente pela primeira vez em 1922 por Otto Stern e Walther Gerlach. Neste experimento recente, manipular e acoplar os spins das partículas no cristal foi a chave para desencadear a sua sincronização coletiva e observar a transição super-radiante.

Implicações para a próxima geração tecnológica

Para além da satisfação científica de confirmar uma previsão teórica com décadas, a observação da transição de fase super-radiante tem implicações práticas potencialmente revolucionárias. Este novo estado da matéria e o mecanismo que o origina abrem caminhos para o desenvolvimento de tecnologias quânticas de próxima geração.

Os físicos envolvidos no estudo sugerem que este fenómeno poderá ser explorado para criar sensores quânticos com uma sensibilidade sem precedentes, muito superior à dos dispositivos atualmente disponíveis.

Adicionalmente, o comportamento coordenado das partículas neste estado poderá levar ao desenvolvimento de qubits - as unidades fundamentais de informação nos computadores quânticos - mais robustos e estáveis, abordando um dos maiores desafios técnicos no campo da computação quântica.

Embora a materialização destas aplicações possa ainda demorar, a demonstração experimental representa um avanço significativo na nossa capacidade de compreender e manipular o mundo quântico.

 

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