A HISTÓRIA: Um génio da caça ao tesouro (John Krasinski) reúne uma equipa para uma aventura inigualável. Mas para iludir e superar ameaças a cada esquina, ele precisará de alguém ainda mais esperto do que ele: a sua irmã afastada (Natalie Portman).
“Nonnas”: na Apple TV+ desde 23 de maio.
Crítica: Manuel São Bento
(Aprovado no Rotten Tomatoes. Membro de associações como OFCS, IFSC, OFTA. Veja mais no portfolio).
Como grande apreciador da filmografia de Guy Ritchie, foi com entusiasmo que recebi o anúncio do seu mais recente projeto. Conhecido pelo seu estilo irreverente e inconfundível – diálogos rápidos e sarcásticos, montagem frenética, uso criativo de “slow-motion”, personagens carismáticas e uma estética visual distinta – o cineasta tem-se afirmado como um dos realizadores mais reconhecíveis da atualidade. Seja com mais ou menos sucesso, Ritchie consegue, quase sempre, colocar a sua marca mesmo nos géneros mais convencionais. “Fonte da Juventude”, escrito por James Vanderbilt (“Zodiac”, “Gritos”), não é exceção.
A história segue os irmãos aventureiros Luke (John Krasinski) e Charlotte (Natalie Portman) numa procura global pela mítica Fonte da Juventude, envolvendo pistas escondidas em locais históricos e uma corrida contra outros interessados. Filmado em vários locais reais que atravessam continentes, a longa-metragem transpira uma energia exploratória e um charme aventuresco que remete imediatamente para clássicos como “Indiana Jones” e “Tomb Raider”.
Por isso mesmo, é de forma absolutamente inexplicável que “Fonte da Juventude” acaba ‘despejado’ diretamente na plataforma Apple TV+, o que levanta sérias questões sobre as prioridades atuais de distribuição em Hollywood. Tendo em conta a amplitude da sua rodagem – incluindo uma perseguição eletrizante pelas ruas de Bangkok, um roubo coreografado com precisão em Viena, uma outra perseguição urbana em Londres e um clímax cativante no Cairo – é uma verdadeira pena que não tenha direito a uma estreia nas salas de cinema. Trata-se de uma experiência audiovisual que, embora funcional em casa, teria tido um impacto exponencialmente maior no grande ecrã.
Narrativamente, “Fonte da Juventude” segue a fórmula habitual das obras de aventura, com todos os clichés e estruturas já esperadas: um artefacto mítico, pistas escondidas em relíquias históricas, reviravoltas previsíveis e personagens com motivações duplas, entre outros elementos genéricos. No entanto, Ritchie consegue injetar a adrenalina e vitalidade necessárias nesta fórmula com o seu estilo caraterístico.
As sequências de perseguição e luta encontram-se fotografadas com uma clareza visual envolvente, acompanhadas por uma montagem fluída (James Herbert) e coreografias detalhadas que mantêm a tensão e a energia sempre em alta. A banda sonora de Christopher Benstead (“The Gentlemen: Senhores do Crime”) acrescenta uma camada extra de entusiasmo, para além da música em si possuir um impacto narrativo significante. Os momentos mais grandiosos são tratados com a devida reverência, sem nunca se levarem demasiado a sério, mantendo o tom leve e divertido ao longo de “Fonte da Juventude”.
O elenco é, sem dúvida, um dos maiores trunfos do filme. Krasinski (“Um Lugar Silencioso”) assume o papel principal com carisma e leveza, equilibrando na perfeição o lado aventureiro com um humor despretensioso. Portman (“May December: Segredos de um Escândalo”), por sua vez, confere à narrativa a densidade emocional necessária para evitar que tudo se torne demasiado superficial, ao passo que Eiza González (“Godzilla vs. Kong”) continua a afirmar-se como uma presença cada vez mais imponente, dominando cada cena com uma mistura magnética de intensidade e confiança.
Com Vanderbilt no argumento, “Fonte da Juventude” beneficia de diálogos naturais e de uma progressão narrativa eficiente. Apesar de previsível, o filme nunca se torna aborrecido, mantendo o ritmo elevado e a atenção dos espectadores desde o primeiro minuto até ao clímax. A exposição da história – sempre um dos maiores desafios neste género – é integrada com inteligência e sem sobrecarregar o público com informação forçada.
Tematicamente, “Fonte da Juventude” podia certamente ter ido mais fundo. Apesar da leveza assumida – e intencional – do seu tom, existem ecos de reflexões importantes sobre a humanidade e os perigos de se brincar com o desconhecido. A mensagem central gira em torno do que estamos dispostos a sacrificar em nome do sucesso pessoal, levantando questões morais sobre o poder e a responsabilidade de quem descobre algo tão poderoso como a juventude eterna. No fundo, transmite-se a ideia de que certas descobertas não pertencem à humanidade e que há limites que devem permanecer intocados. Ainda assim, esta camada temática é muitas vezes apenas tangencial, servindo mais como pano de fundo do que como força motriz da narrativa.
É impossível terminar sem deixar de comentar o vazio atual em Hollywood relativamente a este tipo de cinema de aventura. Com o fim da saga “Indiana Jones” e a incapacidade das novas versões de “Tomb Raider” se imporem no mercado, há uma oportunidade clara para revitalizar o género. “Fonte da Juventude” podia perfeitamente ser o início de uma nova saga, com este grupo de personagens a explorar mistérios e relíquias lendárias por todo o mundo. A leveza, o humor, a ação e o espírito de descoberta estão todos lá. Basta que alguém confie no projeto o suficiente para o apoiar como deve ser.
Conclusão
“Fonte da Juventude” é um excelente exemplo de como se pode fazer cinema de entretenimento puro com qualidade, mesmo sem reinventar a roda. É previsível? Sim. Formulaico? Também. Mas é inegavelmente divertido, visualmente estimulante e conduzido por um elenco carismático e uma realização de quem que sabe exatamente o que está a fazer. Guy Ritchie imprime o seu cunho pessoal sem desvirtuar o identidade do género e James Vanderbilt oferece um argumento sólido e cativante. É uma pena que a obra não tenha tido o espaço que merecia no grande ecrã, pois tal como os locais históricos que visita, merecia ser explorado com toda a grandiosidade possível.
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