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Gouveia e Melo, o candidato populista e anti-partidos, apresenta-se | Opinião

O manifesto de Gouveia e Melo é interessante por muitas razões, a começar pelo que anuncia relativamente ao seu posicionamento político, ao afastar de si a direita radical que um dia sonhou que o antigo “almirante das vacinas” seria o seu candidato a Belém.

Gouveia e Melo diz que se situa “entre o socialismo e a social-democracia”. Supõe-se que a sua intenção seja dizer que está entre o PS e o PSD. O léxico político português é muito complexo, já que o partido social-democrata é o PS, embora também use bastante a palavra “socialismo”. O PSD, que se chama social-democrata, apesar de ter sociais-democratas nas suas fileiras, não faz parte da família política social-democrata europeia, a que pertence o PS. Desde o seu nascimento que foi um partido de direita moderada.

Do socialismo, além do PS, reclamam-se o Bloco de Esquerda e o PCP. É verdade que a Constituição tem no seu preâmbulo a defesa de uma sociedade a caminho do socialismo – digamos que aqui Gouveia e Melo cumpre a Constituição perfeitamente, embora, como se lê no resto do texto, a via socialista não seja exactamente a sua.

Falta uma bússola política para identificar Gouveia e Melo. Está à esquerda de Marques Mendes? À direita de Seguro e de Vitorino? As definições políticas não vão interessar ao candidato: ele sabe de onde lhe virão os votos.

Os votos que Gouveia e Melo quer vêm de parte do eleitorado do PS, do PSD e da população esgotada com os partidos criados na democracia, onde também o Chega foi buscar o combustível que lhe permitiu sentar 50 deputados na Assembleia.

Ora, em busca desse eleitorado esgotado, Gouveia e Melo inaugurou um discurso anti-partidos que não casa bem nem com o PS, nem com o PSD, nem com o “centro político” tradicional.

A ideia de que eleger um Presidente que seja, ou tenha sido, militante de um partido, é nefasto, é um ataque não só aos anteriores presidentes – à excepção de Eanes, que criou o partido em Belém, todos os outros foram líderes partidários – como à democracia liberal europeia em geral.

Ao reivindicar a sua “pureza” nunca manchada pela militância partidária enquanto mantra de campanha presidencial, Gouveia e Melo apresenta-se efectivamente como um candidato populista. A ideia de que um candidato de um partido “sem a independência necessária afunila a democracia” é, em si, um afunilamento da democracia.

Gouveia e Melo acha que o Presidente que tenha tido cartão nunca será de “todos os portugueses” – como até aqui todos os presidentes eleitos foram. Defende que “não terá a independência necessária para representar o interesse colectivo”. Afinal, que balanço Gouveia e Melo fará dos mandatos de Soares, Sampaio, Cavaco e Marcelo?

A ideia vertida pelo antigo homem das vacinas de que, nestas eleições, um Presidente que venha de um partido é um perigo e que será “um instrumento partidário para desequilibrar ou sustentar a governação actual” é profundamente antidemocrática.

Dizer que a ligação a um partido serviria para “transformar a Presidência num apêndice de interesses partidários” e “uma ameaça à capacidade da democracia liberal de manter um sistema equilibrado e funcional” é um ataque ao sistema político. Mas é esse o objectivo de Gouveia e Melo, não é?

Há muito que não se via um ataque tão violento aos candidatos presidenciais adversários, ou futuros adversários, provenientes de partidos, desde a campanha eleitoral de 1986 quando a esquerda considerava que se Freitas do Amaral fosse eleito “vinha aí o fascismo”. Ou, mais recentemente, em 1991, na época em que o candidato do CDS Basílio Horta acusava Mário Soares de “comer da gamela” do poder.

O discurso de Gouveia e Melo, numa época de ascensão dos populismos, tem tudo para ser vencedor. Não vai ser fácil disputar-lhe a cadeira presidencial.

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