Uma pequena cidade no Sul de Espanha tem sido palco de confrontos de cariz racista e xenófobo promovidos por grupos radicais de extrema-direita que na noite de sábado organizaram uma “caça” aos imigrantes.
Há já duas noites consecutivas que a cidade de Torre Pacheco, na província de Múrcia, tem tido acções violentas por parte de grupos extremistas que têm perseguido imigrantes na cidade. No sábado, a noite de violência saldou-se com cinco feridos, alguns dos quais com gravidade, e uma pessoa detida.
A Delegação do Governo em Múrcia garante que, no entanto, haverá novas detenções de pessoas suspeitas de acções violentas na cidade de 40 mil habitantes. “Estão a ser identificadas muitas das pessoas que incitaram esta alteração da ordem pública e estes crimes de ódio”, afirmou a delegada Mariola Guevara numa conferência de imprensa este domingo.
Tudo começou na sexta-feira durante uma concentração pacífica convocada pela autarquia local por causa da agressão contra um idoso dias antes. O episódio, que ainda não foi totalmente esclarecido, chocou a população local, mas foi rapidamente aproveitado por grupos radicais de extrema-direita para responsabilizar a comunidade imigrante, composta maioritariamente por pessoas com origem no Norte de África.
Logo na sexta-feira o que começou por ser uma manifestação pacífica acabou numa autêntica “caçada”, de acordo com a imprensa local, com vários grupos de pessoas a procurarem imigrantes para os agredir. A tensão manteve-se e no sábado à noite as cenas de violência repetiram-se, apesar do contingente policial ter sido aumentado.
Nas redes sociais circularam apelos à participação na concentração de sábado, promovida por grupos de extrema-direita e que, segundo o El País, terão atraído pessoas de fora de Torre Pacheco. Alguns membros da comunidade imigrante da cidade procuraram responder e a polícia diz que se formaram “dois pequenos grupos que tentaram entrar em confronto”.
“Se queremos mostrar que estamos fartos da delinquência e da violência, não o podemos fazer com mais violência”, afirmou o presidente da autarquia, Pedro Ángel Roca, do Partido Popular.
O medo instalou-se entre os imigrantes, muitos dos quais vivem na cidade há várias décadas e dizem também sentir-se afectados pela subida da criminalidade. “Há aqui muita gente que só quer trabalhar. Quem é que está agora a colher os pimentos no campo com 45 graus?”, questionou Abdelalli, proprietário de uma pequena loja, citado pelo jornal local La Verdad.
A casa de Nabil Morino fica no bairro onde decorreram os incidentes no sábado à noite, maioritariamente habitado por imigrantes magrebinos, e fala em momentos de muita tensão e medo. Atribui as cenas de violência a “pessoas de fora que vieram aproveitar o assunto”. “Os meus filhos estavam em casa assustados, perguntando-me se viriam também a nossa casa, porque é a primeira vez que vêem algo assim tão mau”, contou ao mesmo jornal.
Os casos de violência direccionada à comunidade imigrante desta cidade de Múrcia foram condenados pelos principais partidos, com a excepção do Vox, de extrema-direita, que faz do combate à imigração uma das suas grandes bandeiras. “Não queremos gente assim nas nossas ruas nem no nosso país, vamos deportá-los todos, não vai ficar nenhum”, afirmou o líder regional do partido, José Ángel Antelo, que esteve no sábado em Torre Pacheco.
Estes episódios são reminiscentes da onda de violência contra imigrantes que tomou conta da cidade de El Ejido, na província de Almería, em 2000, na sequência do assassínio de três espanhóis por imigrantes marroquinos.
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