A emoção de ouvir cantar o hino nacional foi a primeira memória que despertou Djaimilia Pereira de Almeida para a noção de pertencer a uma comunidade. “Devia ter seis anos. Estava com o meu pai no Rossio e havia uma manifestação. A certa altura, as pessoas começaram a cantar uma canção que toda a gente sabia. O meu pai explicou-me o que era o hino nacional e fiquei muito entusiasmada e também queria cantar. Foi o momento em que percebi que pertencia a qualquer coisa que me transcendia”, conta.
Neste que foi o terceiro de cinco debates do projeto “Ambição para Portugal”, representantes da geração de 80 partilharam as ideias que têm sobre o país e apontaram caminhos para o futuro. Acham que falta definir e concretizar ambições coletivas em Portugal; pedem mais liberdade para empreender e ambicionam um Estado que tenha a coragem de tirar as medidas do papel. “Há ambição mas falta coragem. Vejo muitas vezes políticas orientadas só para a população mais velha, que representa um terço da população votante, o que é muito preocupante. Em vez de trabalharmos em políticas para o futuro, estamos a trabalhar em políticas para o passado. Não podemos esperar pelo Estado para mudar o país”, diz Pedro Brito.
O debate foi moderado por Pedro Boucherie Mendes, diretor de conteúdos digitais de entretenimento na SIC, e contou com a participação de Graça Canto Moniz, CEO na FUTURA; Pedro Brito, CEO na Nova SBE; Sara Cerdas, médica e consultora da Organização Mundial da Saúde; e Djaimilia Pereira de Almeida, escritora.
Fique a conhecer os principais temas debatidos:
O que é preciso resolver:
- A “falta de uma mentalidade de colaboração para o bem comum” é um dos problemas referidos por Pedro Brito. “As pessoas preferem ter uma boa ideia na gaveta e deixá-la morrer do que partilhar essa ideia para ser feita em conjunto. Eu prefiro que a ideia nasça e aconteça, mesmo que não seja eu a fazer”, diz.
- Graça Canto Moniz aponta a falta de tradição de associativismo e a “presença excessiva do Estado” como entraves ao desenvolvimento da sociedade. “À mesa com um grupo de amigos falávamos do problema da segurança social e do facto de a nossa geração e a geração anterior não irem ter reforma. Toda a gente achava que o Estado ia arranjar uma solução. Criar a expectativa nas pessoas de que o Estado é que vai resolver é castrador”, afirma.
- Sara Cerdas foi Eurodeputada entre 2019 e 2024 e lamenta a falta de literacia política. “Há muito pouca crítica. Uma discrepância entre o que os políticos apresentam e o que as pessoas consomem”, critica.
- “Gente nova, independente, emancipada e autónoma das suas famílias” é, na opinião de Djaimilia Pereira de Almeida, o que faz falta para uma sociedade mais dinâmica e capaz. “Teríamos muito a ganhar se aos 18, 19, 20 anos os jovens tivessem de ser lançados para a vida. Demograficamente alguma coisa está estranha. Há uma cultura virada para a limitação e infantilização dos jovens”, diz.
- Investimento em educação e políticas que permitam o regresso dos jovens emigrados, sem perderem a qualidade de vida que conquistaram, foi uma solução apontada como importante para o crescimento da economia.
- A importância na educação para uma consciência cívica, que promova o sentido de comunidade, deve, para os representantes da geração de 80, ser ensinada logo na escola de forma consistente, para estimular um sentimento coletivo que mobilize a sociedade para a concretização de objetivos comuns.
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