Um idoso de 74 anos que padece da doença de Alzheimer desapareceu, na manhã desta terça-feira, do Serviço de Observação (SO) da Urgência Geral do Hospital de Vila Franca de Xira. Acabou por ser encontrado algumas horas depois, já próximo da vila de Arruda dos Vinhos e, ao que tudo indica, terá percorrido mais de 16 quilómetros a pé nas estradas da região. A família está revoltada com a situação e promete levar o caso a tribunal, para que situações de “negligência” deste tipo não se repitam. A administração hospitalar garante que já abriu um inquérito interno, mas alega que a informação que tem é que o idoso estaria acompanhado por familiares.
Fernando Miguens vive num lar e tem diagnóstico de Alzheimer com tendência para fugas. Na passada segunda-feira, depois de uma queda, foi levado à urgência hospitalar por uma das filhas e, já cerca das 23h00, depois de ter sido medicado, a médica que o atendeu explicou à familiar que o pai passaria a noite no SO enquanto aguardava resultados de exames de diagnóstico e que a filha poderia voltar na manhã de terça-feira para fazer o ponto da situação.
A filha regressou cedo ao Hospital, pediu informações sobre a evolução do estado do pai, mas, cerca de duas horas depois, foi informada que Fernando Miguens não se encontrava no serviço de urgência, de onde se presumia que tivesse saído com a família. O próprio hospital alertou, então, a PSP e a GNR para o desaparecimento e o idoso foi encontrado, horas depois, perto de Arruda dos Vinhos.
A família, residente no concelho de Benavente, não se conforma com o sucedido e considera que houve uma atitude negligente no hospital, até porque lhes foi relatado que um enfermeiro terá visto o idoso afastar-se e terá, então, alertado um vigilante para a situação. As filhas prometem, por isso, levar o caso a tribunal, sobretudo com o objectivo de que situações deste tipo não se repitam.
A administração da Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo (ULSETejo), que gere o Hospital de Vila Franca de Xira, já lamentou o sucedido e revelou que abriu um inquérito para apurar o que efectivamente aconteceu. “Durante um atendimento no Hospital de Vila Franca de Xira, em que estava acompanhado por familiares, um utente ausentou-se para parte incerta. Mal teve conhecimento da ocorrência, o Hospital informou as autoridades policiais (PSP e GNR). O utente foi, entretanto, encontrado e foi novamente observado no Hospital”, sustenta a ULSETejo, assegurando que “o Hospital manteve a família informada de todas as diligências tomadas”.
A Unidade Local de Saúde acrescenta que só poderá adiantar mais esclarecimentos quando estiver concluída a averiguação interna. Uma outra fonte hospitalar disse, ao PÚBLICO, que o idoso ainda estava no SO às 9h00 da manhã de terça-feira, quando ocorreu a habitual ronda dos médicos pelos pacientes e que a sua ausência só terá sido detectada duas horas depois, quando uma enfermeira procurou ministrar-lhe um medicamento.
Reguladora lembra direito ao acompanhamento
Os casos de idosos que “desaparecem” de espaços hospitalares repetem-se, apesar das medidas de controlo de acessos tomadas na maior parte dos serviços que acabam, no entanto, por criar mais barreiras e “afastar” os idosos dos seus familiares. Alguns destes casos acabam por ter desfechos trágicos.
Foi o que aconteceu com uma idosa de 73 anos, também com Alzheimer, que desapareceu, em Dezembro de 2023, do Hospital de São Francisco Xavier e cujo corpo só foi encontrado em Fevereiro de 2024, numa mata situada próximo desta unidade hospitalar.
Ainda em Abril de 2024, um idoso desapareceu do Hospital de Santa Maria em Lisboa e um outro idoso de 82 anos desapareceu do Hospital de São Sebastião, em Santa Maria da Feira.
A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) alertou, então, as unidades de saúde em geral para a necessidade legal de garantirem o direito ao acompanhamento dos utentes, especialmente de pessoas com deficiência, com demências, dependentes, com doença incurável ou considerados em fim de vida. Explicou então a ERS que a lei prevê que estes doentes “têm direito a serem acompanhados, de forma permanente, por ascendente, descendente, cônjuge ou equiparado” ou, na sua ausência ou por vontade do doente, este pode indicar uma outra pessoa. Nas situações “verdadeiramente excepcionais” em que se opte pelo não acompanhamento, a ERS diz que “as unidades de saúde devem ter procedimentos internos que assegurem que estas pessoas são devidamente monitorizadas e acompanhadas, de forma consentânea com a verificação de eventuais alterações do seu estado de saúde”.
Em 2023, a ERS recebeu 994 queixas relacionadas com acompanhamento durante a prestação de cuidados e, no ano anterior, recebeu 1018 denúncias.
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