“Creio ser oficial, que tu és especial.” É assim que começa o primeiro poema que Joana (nome fictício) recebeu, na madrugada de uma terça-feira. Com mais de 20 versos, o texto materializa-se numa ode repleta de apelos. Entre rimas, Joana é convidada a ir ver o mar ou “quem sabe jantar”. Nos poemas, que chegam dia após dia, o anónimo diz-se “refém” do amor de Joana. Mas, passados quase dois anos, Joana continua a desconhecer a identidade de quem lhe invade as madrugadas com convites para jantar, mensagens e fotografias. Esta catadupa só vai parar quando o agressor “encontrar outra coisa ou pessoa em quem fixar a sua atenção”, admite Joana. A universitária está longe de estar sozinha: nos últimos cinco anos, houve um aumento de 25% dos inquéritos iniciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por crime de perseguição. Foram 5033 os inquéritos abertos entre 2020 e 2024.