Alterações Climáticas
Jardim Botânico de Kew inaugura espaço dedicado ao papel das plantas na captura de carbono, à biodiversidade e à adaptação ao clima em mudança.
Um novo jardim inaugurado nos Jardins Botânicos de Kew, em Londres, pretende informar e inspirar o público sobre o papel essencial das plantas na luta contra as alterações climáticas. O Jardim de Carbono é um espaço educativo que mostra como o carbono circula nos ecossistemas e o que cada pessoa pode fazer em casa para reequilibrar a balança.
“O objetivo deste jardim é informar as pessoas sobre o que é o carbono e o que podem fazer para se adaptarem a um clima em mudança. Está em todos nós, está nos açúcares, está na atmosfera, está no solo e move-se entre esses diferentes ambientes. Compreender isto é a base do que está a provocar as alterações climáticas”, explicou Richard Wilford, gestor de design do Jardim Botânico Real de Kew.
O Jardim de Carbono foi criado num contexto alarmante. Segundo dados do Instituto de Energia britânico, as emissões globais de dióxido de carbono provenientes do setor energético atingiram um máximo histórico em 2024, impulsionadas pelo uso contínuo de combustíveis fósseis.
O ano passado foi também o mais quente de que há registo, com as temperaturas globais a ultrapassarem, pela primeira vez, 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
Plantas e fungos aliados na luta pelo clima
O novo espaço conta com 6.500 plantas e 35 árvores novas. Ao centro, ergue-se uma estrutura em madeira inspirada num cogumelo: o Pavilhão do Jardim do Carbono.
“Chamamos-lhe o Pavilhão do Jardim do Carbono, mas é inspirado num cogumelo. Os fungos são muito importantes na história do sequestro de carbono, porque estão no solo. As plantas trazem carbono para o solo e este é apanhado pelo micélio, os fios fúngicos, o que ajuda a armazenar o carbono no subsolo para que não seja libertado para a atmosfera. Por isso, é cada vez mais evidente a importância dos fungos em todo o processo”, sublinha Wilford.
Entre as várias áreas do jardim, destaca-se o Jardim Seco, preenchido com plantas como a lavanda, capazes de resistir ao calor e à escassez de água.
“O Jardim Seco é inspirado pelo facto de se prever que, em 2050, teremos em Londres o clima de Barcelona. Isto significa verões mais quentes, mais secos e mais longos, mas também fenómenos meteorológicos muito mais imprevisíveis, tempestades, chuvas intensas. As plantas têm de lidar com essas mudanças, por isso o Jardim Seco escolhe espécies que se adaptem a essas condições mediterrânicas”, explica o responsável pelo design.
O projeto, que demorou quatro anos e meio a ser desenvolvido, inclui ainda novas árvores escolhidas pela sua resiliência.
É preciso fazer mais do que plantar árvores
Amanda Cooper, investigadora e consultora científica do projeto, defende que o papel das plantas é essencial, mas insuficiente.
“Temos de adotar uma abordagem diferente. Temos de voltar a colocar as plantas onde elas costumavam estar. E, ao plantar árvores, ao restabelecer bosques, ao parar a desflorestação, esperamos fazer a diferença no que está a ser emitido para a atmosfera. Não é uma diferença enorme, porque continuamos a emitir, emissões de combustíveis fósseis dos nossos carros e fábricas, mas é um começo. É um começo importante. E se conseguirmos mudar o nosso comportamento, podemos retirar esse carbono da atmosfera e devolvê-lo às plantas no solo”.
Ainda assim, alerta que não basta encher o planeta de árvores.
“Infelizmente, a triste realidade é que as plantas não vão ser a solução total. Teremos de mudar as nossas práticas. Teremos de nos tornar mais eficientes do ponto de vista energético, mas também de encontrar uma fonte alternativa aos combustíveis fósseis. Infelizmente, é exatamente isso que a ciência sugere. Plantar árvores em todo o mundo provavelmente não seria suficiente. E também não seria necessariamente benéfico adotar essa abordagem. E não se trata apenas de selecionar as árvores com base no carbono que podem armazenar, mas também no papel que desempenham no apoio à biodiversidade e a outras funções de que os seres humanos dependem. Por isso, é uma parte muito importante da solução, mas é apenas uma parte da solução”.
Conselhos práticos para jardins mais sustentáveis
Wilford espera que o novo espaço inspire também quem tem um pequeno jardim em casa.
“Espero que as pessoas pensem um pouco mais no que estão a plantar. Tentar plantar coisas. Quero dizer, cada jardim é diferente. É preciso descobrir o que se dá bem no seu jardim. Não vale a pena plantar muitas plantas mediterrânicas se o seu jardim estiver à sombra. Por isso, é necessário pensar nas condições adequadas para as suas plantas. Mas tente encontrar coisas que aguentem mais calor e mais seca. Além disso, é sempre bom deixar o seu jardim um pouco selvagem em alguns sítios para incentivar a biodiversidade. E faça compostagem dos seus resíduos de jardim e depois reutilize-os como cobertura vegetal no seu jardim. Esta é uma forma de manter o carbono no seu jardim. E apodrecerá gradualmente e uma parte desse carbono irá para o solo e também encorajará os fungos a espalharem-se no subsolo e, por isso, também são muito importantes na fixação do carbono”.
#Londres #quer #inspirar #ações #contra #alterações #climáticas #novo #Jardim #Carbono