A Microsoft apresentou na quarta-feira um novo chip que, segundo a empresa, mostra que a computação quântica está a “anos, não décadas” de distância, juntando-se à Google e à IBM na previsão de que uma mudança fundamental na tecnologia de computação está muito mais próxima do que aquilo se acreditava recentemente.
A computação quântica promete efectuar cálculos que levariam milhões de anos aos sistemas actuais e poderá desbloquear descobertas na medicina, na química e em muitos outros domínios em que mares quase infinitos de combinações possíveis de moléculas confundem os computadores clássicos.
Os computadores quânticos também correm o risco de pôr em causa os actuais sistemas de cibersegurança, em que a maior parte da encriptação se baseia no pressuposto de que demoraria demasiado tempo a obter acesso por força bruta (o acto de tentar forçar a entrada num sistema por via de tentativa/erro).
O maior desafio dos computadores quânticos é o facto de um bloco de construção fundamental chamado qubit, que é semelhante a um bit na computação clássica, ser incrivelmente rápido mas também extremamente difícil de controlar e propenso a erros.
A Microsoft afirmou que o chip Majorana 1 que desenvolveu é menos propenso a esses erros do que os seus rivais e apresentou como prova um artigo científico que será publicado na revista académica Nature.
O momento em que os computadores quânticos serão úteis tornou-se um tema de debate nas instâncias mais elevadas da indústria tecnológica. O CEO da Nvidia, Jensen Huang, afirmou no mês passado que a tecnologia estava a duas décadas de ultrapassar os chips da sua empresa, os cavalos de batalha da inteligência artificial, reflectindo um amplo cepticismo.
Estas observações levaram a Google, que no ano passado apresentou o seu novo chip quântico, a afirmar que as aplicações comerciais de computação quântica estão apenas a cinco anos de distância. A IBM afirmou que os computadores quânticos de grande escala estarão operacionais em 2033.
Estratégia de “alto risco e alta recompensa”
O Majorana 1 da Microsoft está a ser desenvolvido há quase duas décadas e baseia-se numa partícula subatómica chamada férmion de Majorana, cuja existência foi teorizada pela primeira vez na década de 1930. Esta partícula tem propriedades que a tornam menos propensa aos erros que afectam os computadores quânticos, mas tem sido difícil para os físicos encontrá-la e controlá-la.
A Microsoft afirmou ter criado o chip Majorana 1 com arsenieto de índio e alumínio. O dispositivo utiliza um nanofio supercondutor para observar as partículas e pode ser controlado com equipamento informático normal.
O chip que a Microsoft revelou na quarta-feira tem muito menos qubits do que os chips rivais da Google e da IBM, mas a Microsoft acredita que serão necessários muito menos qubits baseados em Majorana para criar computadores úteis, porque as taxas de erro são mais baixas.
A gigante tecnológica não deu um prazo para a ampliação do chip para criar computadores quânticos que possam superar as máquinas actuais, mas disse numa publicação que esse ponto estava a “anos, não décadas” de distância.
Jason Zander, o vice-presidente executivo da Microsoft que supervisiona as apostas estratégicas a longo prazo da empresa, descreveu a Majorana 1 como uma estratégia de “alto risco e alta recompensa”.
O chip foi fabricado nos laboratórios da Microsoft no estado de Washington e na Dinamarca.
“A parte mais difícil foi resolver o problema da física. Não há nenhum livro didáctico para isto e tivemos de o inventar”, disse Zander numa entrevista à Reuters. “Inventámos literalmente a capacidade de criar esta coisa, átomo a átomo, camada a camada”.
Philip Kim, professor de física na Universidade de Harvard, que não esteve envolvido na investigação da Microsoft, afirmou que os férmions de Majorana têm sido um tema quente entre os físicos desde há décadas e considerou o trabalho da Microsoft um “desenvolvimento empolgante” que coloca a empresa na vanguarda da investigação quântica.
Afirmou ainda que a utilização pela Microsoft de um híbrido entre semicondutores tradicionais e supercondutores exóticos parece ser uma boa via para a criação de chips que podem ser aumentados para chips mais potentes.
“Embora ainda não exista uma demonstração (desta expansão), o que eles estão a fazer é realmente bem-sucedido”, disse Kim.
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