Um grupo de moradores do bairro lisboeta de Santos mobilizou-se para, mais uma vez, mostrar o quão farto está do barulho causado pela animação nocturna. Fazendo uso de um conjunto de ilustrações que pretendem mostrar os efeitos nocivos na saúde humana da exposição frequente a elevados níveis de ruído, os residentes lançaram, esta semana, a campanha “O Sono Que a Noite Nos Tirou”.
Espalhadas pelas ruas onde se concentram os principais estabelecimentos de diversão noctívaga daquela zona da cidade, as imagens foram colocadas sobretudo em peças de mobiliário urbano, interpelando quem por elas passa.
A campanha, organizada por um colectivo de moradores de Santos-o-Velho, é apresentada como uma “exposição urbana”, mas, alertam, “não pretende entreter”. O objectivo, explicam, é “incomodar, sensibilizar e alertar autoridades e visitantes para os efeitos reais da poluição sonora crónica num bairro que perdeu o equilíbrio entre vida local e exploração comercial”.
Aproveitando a passagem do “dia global do silêncio”, assinalado a 7 de Maio, a acção de comunicação pretende retratar o “verdadeiro terror sonoro que se vive diariamente e sobretudo durante a noite” naquela zona. Produzidas com recurso a um programa de inteligência artificial, as imagens desta campanha, com linhas gráficas que assumidamente mimetizam, entre outros, os estilos de pintores como Monet, Picasso, Matisse, mostram sobretudo rostos cansados, com olheiras, denotando até um elevado grau de desespero.
São os efeitos mais discerníveis, sugere-se, da exposição continuada ao barulho produzido por estabelecimentos de restauração e diversão que funcionam sobretudo à noite e pelos seus clientes.
“O que está em causa é o nosso direito fundamental ao descanso e à saúde. Esta exposição é um grito visual de quem está a ser forçado a viver numa zona de guerra acústica”, justificam os organizadores do protesto, em que as imagens são acompanhadas por breves mensagens escritas, em português e inglês, descrevendo os efeitos perniciosos do ruído na saúde.
Um código QR remete para um endereço onde eles são descritos e onde se apela a uma mudança de atitude. “O ruído faz parte do nosso dia-a-dia, mas o silêncio é essencial para o bem-estar humano. No nosso bairro, o barulho excessivo durante a noite tem roubado o direito ao sono e ao descanso”, lê-se na página associada ao protesto.
As imagens são acompanhadas de explicações sobre os malefícios do ruído para a saúde humana
DR
Nela é explicado que “a poluição sonora vai além de um simples incómodo”, afectando directamente o sono, a saúde e o bem-estar. O que, lembra-se, tem consequências tais como aumento dos níveis de stress, privação de sono, maior risco de doenças cardíacas ou quebras na função do sistema imunológico.
Apela-se, por isso, a uma “comunidade mais silenciosa e saudável”. E lembra-se o que isso pode significar. “Imagine acordar descansado, livre do barulho da noite. Imagine crianças aprendendo e crescendo num ambiente tranquilo, com o sono ininterrupto. Imagine vizinhos começando o dia com energia e alegria, e não com frustração. O silêncio não é um luxo. É essencial para a nossa saúde e bem-estar”, escrevem.
A acção de protesto é organizada por um grupo informal de moradores da zona de Santos, mas é apoiado por outros colectivos de residentes de outras áreas da cidade, que partilham da mesma preocupação. É o caso do grupo Aqui Mora Gente, que tem concertado as suas acções de alerta sobretudo na freguesia da Misericórdia, em particular na zona do Cais do Sodré.
“Apoiamos completamente esta acção, com a qual colaboramos”, diz ao PÚBLICO Isabel Sá da Bandeira, do Aqui Mora Gente. “Isto foi feito por um grupo de residentes daquela zona, mas há uma clara sintonia, uma concertação, com vários grupos de moradores que se queixam do mesmo. Isso é natural, porque o problema do ruído nocturno na cidade está a alastrar para outras áreas. As pessoas não conseguem dormir”, queixa-se a activista.
Em Julho de 2022, a então recém-criada Associação de Moradores de Santos pediu à Câmara de Lisboa que decretasse o encerramento dos bares e discotecas às 23h, queixando-se dos profundos incómodos causados pelo ruído nocturno ligado aqueles estabelecimentos. Uma situação que se terá agravado de forma substancial na sequência do desconfinamento pós-pandemia.
#Moradores #bairro #Santos #espalham #imagens #sobre #terror #ruído #nocturno #Ambiente