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Não, senhor primeiro-ministro, não temos dinheiro para isso | Megafone

Não, senhor primeiro-ministro.

Se tivermos 30 anos, um salário médio e quisermos uma casa, como lhe foi perguntado no Programa “Política Com Assinatura” pela jornalista Natália Carvalho, é óbvio que não vamos conseguir. A sua resposta vagarosa, iniciada por um hesitante “acho que sim” e continuada através de um inconsciente “na medida em que eu já também passei por isso”, é demonstrativa da incapacidade dos jovens de planearem o seu futuro com base nas condições socioeconómicas atuais.

Não, senhor primeiro-ministro, não só não chegamos a esse objetivo na prática como estamos, simbolicamente, a criar um espírito de desilusão face a várias possibilidades. O trabalho estável não nos é uma realidade conhecida, pois o mercado prefere desaproveitar as nossas competências ao longo de anos de estudo e apelidá-las “sobrequalificação”. Mas se não possuímos o saber técnico desejado, incluindo em anúncios de emprego ridículos que pedem anos de experiência para depois oferecerem um estágio, dizem-nos para irmos estudar. Afirma-se que no meio está a virtude, contudo, perante um campo laboral tão saturado e submisso a uma lógica capitalista de descarte e rotatividade rápida, resta-nos pouco para além do desemprego ou da precariedade.



Ora, como é óbvio, inúmeras são as vezes em que nos é vedada a tentativa de independência. Portugal é dos países da União Europeia onde os jovens saem mais tarde de casa dos pais por algum motivo, senhor primeiro-ministro, chegando a valores que não andam muito longe do dobro da idade com que saem os jovens suecos, por exemplo. Não é nosso desejo levar os pais a sustentar-nos ad aeternum, e o sentimento de tentar a sorte e ter de voltar ao ninho é profundamente duro e desmotivador. Todavia, a elite política parece não compreender estes dados e fala de um país imaginário, onde os mais novos têm todas as oportunidades, cabendo somente aos mesmos aproveitá-las.

Quanta arrogância na forma de pensar dos governantes. Senhor primeiro-ministro, falou-se de 30 anos, mas aos 20 ou aos 35 é diferente? E aos 36, quando, repentinamente, graças às suas medidas, o jovem deixa de ser jovem e perde uma série de “regalias”, sem uma transição contínua para a nova fase de vida?

Este é um problema de uma geração inteira, ou até de mais do que uma, abarcando diferentes idades. Por outro lado, a pergunta que lhe foi colocada também assumiu como valor de referência o salário médio. Sabe quanto é esse valor em Portugal? Não precisa de questionar os assessores, eu digo-lho a partir de uma pesquisa rápida: ronda os 1500€, 1600€. Uma fortuna, não é? Dados os padrões de vida nacionais. É claro que já começamos a caminhar no vago, visto que toda a média tem um desvio-padrão associado e, esse, raramente encontramos.

Portanto, até que ponto este salário representa realmente valores próximos à média não sabemos. Mas sabemos uma coisa: se o Primeiro-Ministro titubeia diante destes ordenados, então, se pensasse no salário mínimo, tornar-se-ia claro qual seria a sua resposta franca. Ou não teria coragem política para a afirmar?

Caro Luís Montenegro: os jovens adultos anseiam por uma vida digna, honrada, empenhada e que permita demonstrar o seu valor no emprego e noutras esferas da dinâmica social. Um país que esquece os jovens é uma sociedade que não quer progredir e que definha lentamente. Se deseja, efetivamente, enobrecer as condições daqueles que se posicionam como o futuro de Portugal, comece, talvez, pelo mais fácil (que muitas vezes é o mais difícil) e que não implica nenhuma medida jurídica ou económica: mudar mentalidades, alterar representações ilusórias. Incluindo a sua.



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