Na região central da Via Láctea, a cerca de 24.000 anos-luz da Terra, uma dupla peculiar de objetos parece estar a atravessar o espaço a uma velocidade vertiginosa. Estamos a falar em cerca de 540 km/s, segundo refere a NASA.
Uma velocidade nunca antes vista
As evidências sugerem que estes objetos são uma estrela de alta velocidade e o seu exoplaneta acompanhante, de acordo com um novo estudo. Se confirmado, este seria o sistema exoplanetário mais rápido alguma vez identificado pela ciência.
As estrelas movem-se pela Via Láctea normalmente a algumas centenas de milhares de quilómetros por hora. O Sistema Solar desloca-se, em média, a 720.000 km/h (200 km/s) através do Braço de Orion.

O Braço de Órion ou Braço Local é um braço espiral menor da Via Láctea. O Sistema Solar, assim como quase todas as estrelas vistas a olho nu, estão dentro do Braço de Órion. E o sistema solar viaja neste braço à velocidade de 720.000 km/h.
No entanto, estes dois objetos estão a viajar a mais do dobro dessa velocidade, atingindo pelo menos 1.931.208 km/h, cerca de 540 km/s.
Acreditamos que se trata de um mundo super-Neptuniano a orbitar uma estrela de baixa massa, a uma distância que, no nosso Sistema Solar, ficaria entre as órbitas de Vénus e da Terra.
Se for este o caso, será o primeiro planeta alguma vez encontrado a orbitar uma estrela hiperveloz.
Afirma o astrónomo Sean Terry, da Universidade de Maryland e do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA.
Microlente gravitacional: um fenómeno previsto pela teoria da relatividade geral de Einstein
Os dois objetos foram inicialmente descobertos em 2011, durante a busca por exoplanetas no projeto Microlensing Observations in Astrophysics (MOA), sediado no Observatório Mount John, na Nova Zelândia.
A microlente gravitacional é um fenómeno que ocorre quando um objeto celeste massivo se encontra na linha de visão entre um observador distante e uma estrela de fundo.
Dado que a massa curva o espaço-tempo, a luz da estrela dobra-se ao atravessar essa distorção antes de chegar ao observador.
Se os três pontos se alinharem de forma suficientemente precisa, o espaço-tempo deformado do objeto intermediário age como uma lente, amplificando a luz da estrela.
Ao analisar os dados do MOA em 2011, os investigadores determinaram a relação de massas entre os dois objetos – um é 2.300 vezes mais massivo do que o outro – mas a massa real de ambos permaneceu incerta.
Determinar a razão de massas é fácil. Calcular as suas massas reais é muito mais difícil.
Explica o astrónomo David Bennett, da Universidade de Maryland e da NASA Goddard, que trabalhou nos estudos de 2011 e 2025.
Para isso, é necessário conhecer a distância do objeto, de forma semelhante ao modo como o afastamento ou aproximação de uma lupa altera a perceção do tamanho de um objeto sem modificar a diferença de dimensões entre eles.
Em 2011, Bennett e a sua equipa propuseram dois cenários: ou se trata de uma estrela ligeiramente menos massiva que o Sol com um planeta 29 vezes mais massivo do que a Terra, ou é um super-Júpiter errante relativamente próximo, acompanhado por uma lua mais pequena do que a Terra.
Sistema solar poderá escapar na Via Láctea
No novo estudo, os investigadores procuraram determinar a verdadeira natureza deste par mais de uma década depois, recorrendo a dados do Observatório Keck, no Havai, e do satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia.
Os dados apontam para um sistema estelar localizado a cerca de 24.000 anos-luz da Terra, situado na densa e luminosa região central da Via Láctea – uma espécie de “centro urbano galáctico”, em contraste com a posição mais periférica do nosso Sistema Solar.

Conceito artístico de um sistema estelar em movimento rápido. (NASA/JPL-Caltech/R. Hurt (Caltech-IPAC))
Com base na sua distância em relação à posição registada em 2011, a equipa calculou a velocidade da estrela, concluindo que esta se move a mais do dobro da velocidade do Sol.
Contudo, esse valor apenas reflete o seu movimento bidimensional a partir da perspetiva terrestre. A estrela pode também estar a deslocar-se na nossa direção ou para longe de nós, algo mais difícil de medir, o que significaria que a sua velocidade real pode ser ainda maior.
Isto sugere que a estrela pode ser suficientemente rápida para ultrapassar a velocidade de escape da Via Láctea, estimada entre 550 e 600 km/s.
Se for esse o caso, estará a caminho do espaço intergaláctico – embora tal possa demorar milhões de anos, dado que a Via Láctea é gigantesca e a estrela ainda se encontra essencialmente no seu centro.
O estudo foi publicado no The Astronomical Journal.
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