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Meio século após o seu lançamento falhado para Vénus, Kosmos 482 deverá reentrar na atmosfera terrestre nos próximos dias. Especialistas dizem que o risco é mínimo, mas não totalmente nulo.

Vénus captada pela sonda Akatsuki da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão em maio de 2016.
J. Greaves/Universidade de Cardiff/JAXA via AP
Uma nave espacial da era soviética lançada nos anos 1970, que deveria ter pousado em Vénus, deverá cair descontroladamente na Terra por volta de 10 de maio. Embora o episódio não esteja isento de riscos, os especialistas consideram improvável que cause danos.
Segundo o cientista holandês Marco Langbroek, da Universidade de Tecnologia de Delft, ainda é demasiado cedo para prever com exatidão onde poderá cair a cápsula metálica de cerca de 500 quilos. A estimativa é que entre na atmosfera a cerca de 242 km/h, caso se mantenha intacta.
“Embora não seja isento de riscos, não devemos ficar demasiado preocupados”, afirmou Langbroek, num e-mail à agência Associated Press.
O objeto é relativamente pequeno e, mesmo que não se desfaça, “o risco é semelhante ao de uma queda aleatória de um meteorito, que acontece várias vezes por ano. Corre-se um risco maior de ser atingido por um raio durante a vida”, sublinhou Langbroek.
A hipótese de a nave espacial realmente atingir alguém ou alguma coisa é pequena, “mas não pode ser completamente excluída”.
Kosmos 482: a sonda que nunca saiu da órbita terrestre
A cápsula pertence à missão Kosmos 482, lançada pela União Soviética em 1972 como parte de uma série de missões ao planeta Vénus. No entanto, uma falha no foguetão impediu a nave de deixar a órbita terrestre.
Kosmos 482 teria um design semelhante à cápsula Venera-4, em exposição no Museu Memorial de Astronáutica em Moscovo
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A maior parte da estrutura terá sido destruída ao longo da primeira década em órbita. No entanto, segundo Langbroek e outros especialistas em detritos espaciais, a cápsula de aterragem – uma esfera com cerca de um metro de diâmetro – tem permanecido numa órbita elíptica ao longo dos últimos 53 anos, perdendo altitude de forma gradual.
Construída para resistir a Vénus
A cápsula foi concebida para suportar a descida na densa atmosfera de Vénus, rica em dióxido de carbono, o que aumenta a probabilidade de sobreviver à reentrada na Terra.
No entanto, é pouco provável que os sistemas originais, como os paraquedas, funcionem após tantas décadas no espaço. Mesmo o escudo térmico poderá estar comprometido.
“Na verdade, seria preferível que o escudo térmico falhasse”, afirmou Jonathan McDowell, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica. “Isso faria com que a cápsula se desintegrasse durante a reentrada. Mas, se resistir, teremos meia tonelada de metal a cair do céu”.
Probabilidade de cair num oceano
A reentrada poderá ocorrer em qualquer ponto entre os 51,7 graus de latitude norte e sul – o que inclui cidades como Londres ou Edmonton, no Canadá, até regiões tão a sul como o Cabo Horn, na América do Sul.
“Como a maior parte do planeta é coberta por água, há boas probabilidades de que a sonda acabe por cair num oceano”, concluiu Langbroek.
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