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Opinião
Opinião de João Rosado.
A polémica sobre a continuidade de Rui Borges pode ter graves consequências.
MANUEL FERNANDO ARAUJO
Quando um jogador se senta na mesa reservada a lendas do tamanho de Fernando Gomes, Yazalde ou Eusébio, é de presumir que tenha uma vocação especial para o póquer.
Frente ao Boavista, os quatro golos do cada vez mais indescritível Viktor Gyokeres confirmaram esse talento, embora também se aceite que tudo seja mais fácil para quem esconde a cara na hora de distribuir cartas. Indiferente a isso, ou não fosse a frieza um dos maiores segredos do casamento fiel com os golos, o homem da máscara sentenciou a partida no Bessa e salvou a face de Frederico Varandas, o presidente que a meio da semana tinha decidido ir a jogo sem nenhuma espécie de trunfo na manga.
Miguel Vidal
Incapaz de conter a satisfação pelo apuramento para a final da Taça de Portugal, o líder leonino fez questão de improvisar uma declaração aos jornalistas depois de nova vitória a expensas do Rio Ave e acabou por tropeçar nas próprias palavras ao criar uma desnecessária polémica em torno da continuidade de Rui Borges.
Desfazendo-se em elogios ao grupo de trabalho que atropelado por inúmeros contratempos de ordem física tinha chegado ao Jamor enquanto mantinha o primeiro lugar no campeonato, Varandas não teve coragem para responder diretamente à pergunta relacionada com a permanência do treinador na próxima temporada, dando ignição a um fogo que passou a lavrar nas primeiras páginas.
Entre os vários erros cometidos pelo responsável máximo do clube quando falou para as câmaras em Paços de Ferreira, torna-se difícil perceber qual deles foi o mais penalizador. O primeiro deles, isso é certo, relacionou-se logo com a deficiente interpretação do momento. O Sporting tinha acabado de eliminar um adversário respeitável mas de recursos demasiado modestos para poder ser equiparado ao campeão nacional.
Ao rebentar de regozijo por ter afastado o emblema de Vila do Conde da final da Taça, Frederico Varandas pensou “curto”, como se tivesse acabado de deixar para trás o Benfica ou o FC Porto, os rivais de sempre numa história que não se coaduna com celebrações do género.
Diogo Cardoso
Passando por cima da inconfidência cometida sobre os sonhos de Nuno Santos no que respeita à final de 25 de maio, outro grave defeito da comunicação presidencial reflete o contrassenso do discurso centrado nos méritos expostos por uma equipa que foi obrigada a improvisar médios para contrabalançar a assustadora onda de lesões. Ao relevar o instinto de sobrevivência e excelência de um onze com várias adaptações e alimentado no centro do terreno por jovens recrutados ao Sporting B, o presidente estava, por inerência, a aplaudir o trabalho do técnico que não lhe mereceu logo a seguir um público voto de confiança.
Mesmo que pense para com os seus botões que Rui Borges não tem o perfil certo para agarrar os desafios da nova temporada, o simples facto de deixar isso em equação ou debaixo de suspeita acarreta um peso descomunal para o que resta disputar da presente época. Se o treinador tem sido peça-chave para aquilo que foi catalogado como um feito extraordinário, o anúncio da permanência era algo de obrigatório e que jamais poderia ficar a marinar em zona dúbia.
JOSÉ COELHO // LUSA
Noutra perspetiva, se os jogadores são vistos como os obreiros exclusivos da campanha efetuada até abril, não podia haver pior momento para desferir uma machadada na estabilidade emocional daquele que foi chamado para suceder a João Pereira.
Em síntese, para dizer nada de taxativo sobre o futuro e provocar um ruído que merece o agradecimento de Rui Costa e Bruno Lage, melhor tinha feito Frederico Varandas em ficar e continuar calado, em modo apagão, quanto mais não fosse porque até agora o Sporting ganhou… zero.
Deixou escapar a Supertaça, viu fugir a Taça da Liga e pode acabar como “finalista” vencido no campeonato e na Taça de Portugal. Ou seja, em quatro competições, os leões podem perder… quatro, o que só prova que nem toda a gente tem na cara o talento para o póquer.
#apagão #falta #Sporting