O governo da AD apresentou uma moção de confiança que ninguém pediu e que sabia que ia ser chumbada. Agora queixa-se de ser obrigado a ir a eleições porque a oposição não aceitou fazer um escrutínio delimitado pelo escrutinado. Ou seja, o defesa Montenegro cortou uma bola com a mão na linha de golo e teve a desfaçatez de exigir penalty na área contrária. Depois de perceber o ridículo, suplicou que o cartão vermelho fosse substituído por um raspanete. Como isso não aconteceu, vai passar os próximos dois meses a queixar-se da arbitragem.
Após o chumbo da moção de confiança, o líder da oposição apareceu sozinho. O primeiro-ministro, por outro lado, surgiu ladeado de membros do governo. Dá a ideia de que é Pedro Nuno Santos quem tem de dar explicações ao país sobre um problema pessoal que pode contaminar as condições políticas dos seus correligionários. É, na verdade, enternecedora a solicitude com que o resto do governo se vinculou a uma trapalhada do foro privado de Luís Montenegro.
Luís Montenegro desfez-se das quotas da Spinumviva, mas é como se tivesse tornado todos os seus ministros sócios da sua empresa. Agora, não é só a vida política de Luís Montenegro que está em jogo, é a de todas as caras do executivo. Na volta, a Spinunviva presta um tipo de serviço que ainda não tinha sido revelado: o da gestão de carreiras. Nomeadamente, delineia estratégias que têm o objetivo de sabotar as ambições futuras de governantes da AD.
Há ministros da AD a pedir uma maioria absoluta, não considerando que talvez seja o primeiro-ministro o factor que a impeça. Com o país a caminho de novas eleições que previsivelmente produzirão uma nova ingovernabilidade, é surpreendente que, num partido tão desesperado por permanecer mais uns anos no poder, não haja mais vozes a exigir um raide de Passos Coelho, com a sua predisposição para acordos com o Chega, algo que geraria uma maioria – provavelmente má-ioria, mas uma maioria. A vitalidade do PSD é preocupante: até as forças vivas do PSD foram substituídas pela força da Spinumviva.
O Partido Socialista terminou há doze meses um ciclo governativo de oito anos: vai demorar até ao eleitorado sentir nostalgia suficiente para ter paciência para mais um governo PS. Por agora, Pedro Nuno Santos parece querer tanto ocupar São Bento quanto Montenegro quer lá dormir. O partido de Luís Montenegro teria todas as condições para vencer, de forma reforçada, as próximas legislativas. O problema é que o candidato do partido de Luís Montenegro vai ser Luís Montenegro.
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