No ano passado, os oceanos atingiram os níveis mais elevados das últimas três décadas, com a taxa de subida do nível global do mar a aumentar cerca de 35% mais do que o previsto, de acordo com uma análise efectuada pela agência espacial norte-americana NASA e publicada na quinta-feira. A subida inesperada dos níveis globais é preocupante, sobretudo como indicador do que se pode esperar nas cidades costeiras, muitas das quais já estão a sofrer inundações mais prejudiciais.

“Uma vez que os oceanos cobrem mais de dois terços do planeta, a subida global do nível do mar é um indicador importante do clima global da Terra”, afirma Josh Willis, investigador do nível do mar no Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA.

No ano passado, a taxa média de subida do nível global do mar foi de 0,59 centímetros, superior à taxa esperada de 0,43 centímetros por ano, informou a NASA num comunicado de imprensa.

A taxa de subida global do nível do mar segue uma tendência de aumento rápido das taxas nos últimos 30 anos. De 1993 a 2023, a taxa de subida global do nível do mar duplicou, passando de 0,20 centímetros por ano para 0,45 centímetros, segundo outro estudo conduzido pela NASA. Globalmente, o nível global do mar subiu 10 centímetros desde 1993.

Como se prevê que as taxas aumentem, Willis diz que a taxa “esperada” se baseia nesta subida a longo prazo e na rapidez com que está a acelerar. Mas, num qualquer ano analisado, este investigador e a sua equipa observam um pequeno aumento ou diminuição devido aos ciclos naturais – como no ano passado. Os ciclos naturais permitem que mais água chegue ao oceano ou que mais calor seja absorvido.

Em 2024 foi diferente: ponto sem retorno?

O nível global do mar é influenciado por determinados factores. Nos últimos anos, a fusão das camadas de gelo e dos glaciares contribuiu para cerca de dois terços da subida do nível do mar. Outro terço deveu-se ao aquecimento dos oceanos, que aumentaram de volume. Mas 2024 foi diferente. A principal força motriz, segundo a equipa, foi uma quantidade invulgar de aquecimento dos oceanos que levou a uma maior expansão.

As temperaturas elevadas dos oceanos têm surpreendido os cientistas nos últimos anos. O calor dos oceanos tem vindo a aumentar de forma consistente desde o final da década de 1980, mas as taxas dispararam para novos níveis nos últimos dois anos. Uma vaga sem precedentes de aquecimento dos oceanos desde 2023 levou alguns cientistas a pensar que esta parte do sistema terrestre mudou fundamentalmente de uma forma que não pode ser invertida numa escala temporal humana.

As temperaturas quentes dos oceanos podem ser prejudiciais para os ecossistemas marinhos, incluindo a perturbação das populações de recifes de coral do nosso planeta. Contribui também para intensificar rapidamente os furacões, como o furacão Milton em 2024.

Zonas com subida de 15 cm em 15 anos

O calor extremo dos oceanos ocorre numa altura em que as temperaturas globais na Terra atingiram os valores mais elevados de que há registo em 2023 e, depois, novamente em 2024. Em 2024, a temperatura global foi cerca de 16,5 graus Celsius mais quente do que a média do século XX.

Segundo Willis, as taxas globais de subida do nível do mar indicam-nos a quantidade total de água ou calor que é adicionada aos oceanos. “A taxa de subida global está a dizer-nos algo sobre o que podemos esperar na maior parte das zonas costeiras de todo o mundo”, afirma.

Embora o nível global do mar esteja a aumentar mais rapidamente do que o previsto, muitas cidades costeiras estão a registar aumentos ainda maiores a nível local. A subida local do nível do mar é influenciada por outros factores, como o afundamento da terra, as correntes oceânicas e as diferenças de altura da terra, por exemplo.

Mais de uma dúzia de marégrafos [instrumento que regista automaticamente o fluxo e o refluxo das marés em um determinado ponto da costa] do Texas à Carolina do Norte revelaram que o nível do mar está pelo menos 15 centímetros mais alto do que há quase 15 anos. Em algumas destas zonas, as inundações de estradas e terrenos tornaram-se mais prováveis e perigosas.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post