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Majur já está de malas prontas. A cantora e compositora baiana, de 29 anos, que lançou, nesta quarta-feira (14/05), seu terceiro álbum, Gira Mundo, tem uma turnê internacional programada para os próximos meses. A artista, que usa a expressão “uau!” como se fosse vírgula, tem mesmo motivos de sobra para comemorar. Além do novo trabalho, disponível em todas as plataformas de streaming, ela fará uma série de shows, entre os dias 24 de maio e 28 de junho, em 10 cidades da Europa — Portugal, a princípio, está fora do roteiro.
“Uau, que correria! Dá um friozinho na barriga, porque é a primeira vez que eu vou a tantos países na minha vida”, vibra Majur, em entrevista por chamada de vídeo, de Salvador, ao PÚBLICO Brasil, enquanto refazia as tranças do seu cabelo. “Acho que só daqui a cinco horas o penteado vai ficar pronto”, calcula, bem-humorada.
Majur vai se apresentar em países como Finlândia, que marcará a estreia do tour, passando por Bélgica, Suíça, Alemanha, Irlanda, Suécia, Reino Unido e Noruega. Até o momento, fora do Brasil, ela só havia subido ao palco em Roskilde, na Dinamarca, no ano passado. “Eu sempre tive vontade de rodar o mundo fazendo o meu trabalho, o que eu amo. Mas também vou tentar passear. Quero conhecer novos lugares, entrar num bar, andar por um bairro diferente, ver outras culturas”, planeja.
Na bagagem, Majur leva sucessos dos álbuns Ojunifé (2021) e ARRISCA (2023), com participações de Ivete Sangalo, Xamã e do grupo Olodum. Em Gira Mundo, ela “exalta a cultura afro-brasileira em umo ode à natureza”, com o uso de instrumentos como piano, baixo acústico, clarins e atabaques.
A cantora Majur diz que as pessoas precisam aproveitar melhor o tempo e viver
Ladeira/Lucas Marinho
“Eu consegui pegar isso e trazer para o mainstream”, explica. “A interseção de instrumentos de orquestra com a brasilidade dos tambores. Eu fiz uma mistura disso e quero que sintam essa experiência”, diz.
Valor da vida
Das 16 faixas de Gira Mundo, a cantora, que aparece com um visual futurista na capa, destaca Iroko, que, em yourubá, “é uma energia da natureza que simboliza o tempo”.
“Essa música tem uma mensagem importante, porque estamos vivendo em um mundo muito mais ansioso. Consumimos cada vez mais coisas em menos tempo. Não temos mais paciência de parar para ler um livro, escutar um disco ou até para passar algumas horas na praia. Hoje, as pessoas vão aos lugares, ficam uma horinha e voltam logo, porque têm outro compromisso. Eu gostaria de fazer as pessoas entenderem que existe um tempo acima de nós. É a nossa vida. Não é para correr, é para a gente viver”, reflete.
E acrescenta: “As canções do meu novo álbum não têm um ou dois minutos. Elas têm quatro, cinco minutos. Para escutá-las, a pessoa vai ter que parar, relaxar, tomar um café, beber uma água, ver a paisagem. Se estiver na natureza, vai ser melhor ainda. A gente também precisa parar e ver o que está fazendo com a nossa vida”.
Intolerância e racismo
Majur, que nasceu e cresceu em uma comunidade carente em Salvador, também aborda a intolerância religiosa e o racismo em suas canções. E aponta para o fato de sempre se tornar uma pauta por ser uma cantora trans, preta e que veio da favela.
“Infelizmente, no Brasil, qualquer movimento de uma pessoa negra é pauta. Ela não consegue não ser porque ainda vivemos num país muito racista”, enfatiza a artista, que, aos 5 anos, descobriu o mundo da música pelo projeto social Coro da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador. “Passei oito anos lá. Então, acabei estudando concepção de música, tive aulas de canto, piano, violão e violino. Foi incrível”, elogia.
Na infância, porém, Majur também viveu uma fase difícil. Com apenas quatro anos, ela precisou catar material reciclável na rua com a mãe, Luziane, e a irmã caçula, Karen.
“A minha mãe teve que fazer isso para sobreviver, porque meu pai tinha nos deixado. Imagine, mãe solo e com duas filhas para criar. Então, no fim das festas, a gente estava lá buscando latinhas para vender no ferro-velho e conseguir dinheiro para comprar comida”, relembra, sempre sorrindo. “Não quero romantizar a dificuldade. Se a gente vivesse em um país mais desenvolvido, talvez isso não tivesse acontecido. Mas, hoje, não é uma lembrança ruim, é uma lembrança de força, de coragem e de motivação”, garante.
Com seis anos de carreira, atualmente, Majur mora na Praia de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. E ela agradece a todo momento à sua mãe pela trajetória de sucesso que vem trilhando no cenário musical brasileiro. “Minha mãe é uma deusa, uma rainha”, derrama-se. “Ela sempre acreditou em mim e me fez ter um olhar mais humano para o mundo.”
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