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Os anos de glória do Hotel Parque no coração de São Martinho do Porto | Lugares que já brilharam

A ironia tem destas coisas: na praia que ficou conhecida como “o bidé das marquesas”, elevada a estância balnear pela monarquia, seria a República a ver nascer um mais belos edifícios de São Martinho do Porto.

Em 1910, um emigrante português no Brasil (António Rosa) construiu na vila um chalet, desenhado pelo arquitecto José Venceslau de Oliveira — que de resto dá nome a uma rua na vila —, à imagem e semelhança daquele que já construíra no país irmão. A beleza do edifício – um misto de Art Déco e Arte Nova — protagoniza em pleno a Belle Époque.

“Era uma casa de grande luxo para a época, mas como o senhor Rosa e a família passavam cá pouco tempo, nos anos 40 ou 50 transformou a casa em pensão, tendo o nome de Pensão Rosa”, recorda ao PÚBLICO Cipriano Simão, dirigente da Casa da Cultura José Bento da Silva, um dos guardiões da memória de São Martinho do Porto.

Mas seria a mudança para a tipologia de hotel (o nome Parque resulta do imenso espaço verde que circundava o edifício) que haveria de fazer história na vila e na região: os quartos grandes, o regime de “pensão completa” e as festas estão gravados ainda hoje na memória colectiva.



É conhecido como antigo Hotel Parque e está abandonado há vários anos
Rui Gaudêncio

Desde o final do século XIX que São Martinho se tornara uma praia de elite, refúgio da aristocracia, à conta da estância termal de Caldas da Rainha, ali bem perto. “Na altura, os médicos sugeriam, como complemento das termas, os banhos do mar”, recorda Cipriano Simão.

Ora, em 1886, a inauguração da linha de caminho-de-ferro, a Linha do Oeste, viria facilitar a ligação entre Caldas da Rainha e São Martinho. A corte mudava-se para o Oeste. Entretanto, as águas calmas da baía atraíam cada vez mais famílias da nobreza e da burguesia, que foram construindo ao longo da vila as suas casas de veraneio. E é nesse apogeu de procura que António Rosa constrói o seu chalet.

Quando passa a Hotel Parque, já não tem apenas os jardins circundantes, mas também um restaurante, bar, esplanada e campos de ténis. Foi aí, de resto, que muitos jovens começaram por trabalhar. É o caso de Ni Francisco, um dos antigos funcionários do hotel (e também dos últimos) entre os anos 80 e 90. Nessa altura, já o hotel mudara de mãos, pelo menos, duas vezes: fora vendido a uma empresária belga no final dos anos 60, e de novo a um emigrante português nos Estados Unidos da América, depois do 25 de Abril de 1974.



Chama-se Hotel Parque devido à vegetação intensa que o rodeava
Rui Gaudêncio

Tal como Cipriano, também este antigo empregado recorda o ambiente festivo que caracterizava o espaço nos tempos áureos. Sempre teve portas abertas ao público em geral, que se deliciava com as festas e os bailes temáticos, ainda nos anos 90. “O baile da chita (tecido típico de Alcobaça) era o mais famoso de todos”, lembra Cipriano. Durante o dia, os jardins e a esplanada eram ponto de encontro da (alta) sociedade de São Martinho, quando “as senhoras passavam as tardes a jogar à canasta”.

Os quartos já então eram ocupados maioritariamente por turistas americanos. Mas nos anos 90, o hotel acabaria por fechar as portas. É dessa época o princípio da construção de prédios, muitas vezes ao arrepio de qualquer estética, ali e em toda a costa portuguesa.

Desde então, “o Hotel Parque é como uma ferida aberta para a comunidade de São Martinho”. Abandonado, já foi vítima de dois ou três incêndios, o último em Janeiro de 2024. Em São Martinho, a maioria da população acredita que a culpa pode morrer solteira, mas tem um nome: especulação imobiliária.

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