A longevidade da população é uma coisa boa para os cidadãos que vivem mais anos e uma coisa má para orçamentos do Estado e das autarquias que são obrigados a prever verbas para atender estes homens e mulheres com + de 65 e um horizonte de vida até aos 80 ou 90 anos. Governo e autarquias são obrigados a entrarem em cena para garantir a qualidade de vida dos idosos nas suas habitações, nos jardins e espaços públicos, combatendo o isolamento, oferecendo cuidados de saúde rápidos e de qualidade, convocando as forças policiais – PSP e GNR – para garantir a segurança, de todos e dos mais isolados.
Os números (do INE) são evidentes: em Portugal há dois idosos por cada jovem. E face a este cenário “o papel das autarquias é fundamental”. Adelina Pinto, vice-presidente da Câmara Municipal de Guimarães, defende que “as cidades têm de ser pensadas para as pessoas e para cidadãos ativos”. Ora, “esse grande desafio obriga a uma nova visão do espaço público, urbano e verde, a de todos ajudarem na capacidade e envelhecer com qualidade e fazer como diminuir o número de pessoas que vai parar ao hospital”. A autarca lembra que todos vamos “ser velhos durante mais tempo” e que o Estado e a sociedade têm de fazer algo para que “envelhecer não seja uma coisa decrépita”.
O debate sobre o envelhecimento ativo e saudável juntou representantes de instituições do sector social, todos aqueles que “têm as melhores práticas, estratégias e políticas públicas sobre o envelhecimento”, como sublinhou João Ferreira, da Segurança Social de Braga. E tomou como exemplo Guimarães, “uma cidade que soube envelhecer” e “compreender melhor o envelhecimento” ao ter respostas e práticas que respondem aos desafios dos cidadãos +65 anos.
Longevidade: um arco-íris de múltiplas cores
O painel que abriu o encontro, “Longevidade mas com qualidade”, colocou lado a lado Pedro Cunha, administrador da Unidade Local de Saúde do Alto Ave e Eduardo Duque, professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP). O médico e o sociólogo mostraram o envelhecimento ativo e saudável como um arco-íris de múltiplas cores. “Um tema urgente e emergente” porque “a longevidade é a maior conquista do mundo” como entende Catarina Vieira da Silva, a moderadora que é, também, professora da UCP. E lembrou números da ONU que estima até 2050 cerca de 22% da população mundial terá mais de 60 anos.
Em Portugal, há tons carregados no arco-íris de longevidade, onde por cada 180 idosos há 100 jovens e a vulnerabilidade e a pobreza estão por perto. As mulheres, são as mais solitárias – num universo de 1/4 da população portuguesa. Catarina Vieira da Silva focalizou quatro pilares do envelhecimento saudável: o idadismo, a cidade que é amiga de pessoas idosas, os cuidados integrados que lhes são prestados e os cuidados de longa duração que é preciso manter para sustentar a qualidade de vida. E a dignidade consagrada de direitos humanos nas respostas sociais.
Enquanto tema central, deste primeiro de três dias, “Longevidade mas com qualidade” proporcionou a Eduardo Roque uma radiografia da vida dos portugueses, comparando as décadas de 30 e a de hoje, num espaço de 80 a 90 anos. Entre os 6,5 milhões de portugueses de ontem e os 10,5 de hoje, confrontam um Portugal “pobre e pequenino” e outro que faz parte da União Europeia, mais rico porque “a riqueza de um país mede-se pelo número de pessoas”.
A taxa de analfabetismo, também, foi apontada como factor de desenvolvimento. Era de 66% há 90 anos e agora é de apenas de 3%. O abandono escolar precoce, hoje ao nível dos padrões da UE, e o índice de fecundidade – de 4 para 1,4 – foram indicadores escolhidos para ilustrar as mudanças na sociedade, entre ontem e agora.
Nesta análise sociológica, Eduardo Duque sustenta que a subida da esperança de vida para além dos 81 anos e a taxa de natalidade de 1,3 para 2,5 mostra que “somos muito diferentes”, classificando “os nossos idosos como os heróis de hoje que souberam sobreviver, que tinham um sonho – dar um curso aos seus filhos”. Acrescentou, que esses heróis não estudaram mas lutaram para “dar uma vida melhor aos seus descendentes”.
Eduardo Duque diz que “as famílias são diferentes hoje”, sendo evidente “uma distância entre pais, filhos e avós”. Mas vincou que são “democráticas, com relações verticais, sem que ninguém fale de alto para baixo, onde há diálogo, consenso”. Focou a autonomia individual de todos os membros da família, a flexibilidade dos papéis e a perda da “autoridade do pai como ganhador do pão – que se sentia no direito de bater na mulher e nos filhos – e a mãe como a cuidadora da família, a senhora dos afetos, do amor e carinho que os filhos protegem da violência do pai”.
O professor acentuou que “hoje, educa-se muito para a sociedade de bem-estar que criamos”, ao contrário de outrora em que o “sacrifício” era sagrado e que mais tarde dava direito a uma compensação. “Somos muito diferentes, a família é diversa, desestruturada e, por isso, há mais conflitos”, defendeu.
O início da velhice começa no ventre da mãe
Pedro Cunha, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Alto Ave (ULSAAVE), localizou o início da velhice ainda no ventre da mãe. E deu enfoque à importância como, cada um de nós, previne a doença e aumenta a sua esperança de vida.
Defensor de um sistema de saúde que previne – disse que o Ministério da Saúde é, hoje, o Ministério da Doença – e uma qualidade de vida e bem-estar que proteja o cidadão dos riscos da sua existência, a que está exposto, o médico e administrador hospitalar diz, porém, que “nem tudo está nas mãos dos médicos, não mais que 20% da saúde dos cidadãos”. E identificou fatores externos e de contexto que podem influenciar a taxa de longevidade: a qualidade da água, a existência de saneamento, ter ou não ter momentos de lazer, tudo isto faz parte dos 80% que os médicos não controlam.
Considerou os municípios e o terceiro sector como protagonistas e agentes de uma mudança no paradigma da saúde em Portugal, tal como a academia e os sistemas inteligentes. Abriu a janela de um projeto inovador a nível nacional – que será aplicado em Guimarães, junto das escolas, um plano de 12 anos, com “uma estratégia de educação séria” com disseminação pelas famílias e com uma estruturação sólida. E que visa combater os efeitos do sal, do tabagismo, da gordura, desde cedo.
Paula Oliveira, vereadora da Acção Social, de Guimarães encerrou o primeiro dia deste encontro afirmando que “o corolário de bem morrer é o corolário de saber bem viver”. Nuno Marques, ex-coordenador do Plano Nacional de Envelhecimento Ativo, sintetizou a sessão, afirmando que “em termos de longevidade, Portugal já está com uma esperança de vida alta, ao nível da UE”.
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