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Overcompensating: os dias da masculinidade performativa na faculdade (e na TV) | Streaming

Stockard Channing tinha 33 anos quando fez da estudante de liceu Betty Rizzo no filme Grease — Brilhantina. Era suposto ter uns 16 anos. É um clássico das artimanhas da ficção sobre jovens —​ impostas tanto pelas leis que limitam o trabalho infantil como pelos actos e conversas de adultos muitas vezes atribuídos a personagens abaixo da maioridade. Isto leva-nos a Overcompensating. Benito Skinner, que se celebrizou a encarnar várias personagens em vídeos curtos para a Internet, tem agora 31 anos e é a estrela e o criador desta série cómica estreada a meio do mês no Prime Video da Amazon. Inspirada na sua própria vida, a de um atleta que desde novo fingiu uma heterossexualidade performativa e só assumiu a homossexualidade no final da faculdade, acompanha o primeiro ano da sua personagem, Benny, como estudante universitário.

A rodeá-lo estão muitos outros actores bem acima dos 25 anos. É algo a que temos décadas de habituação. PEN15, série de liceu de 2019, jogava com isto de forma muito interessante: só as protagonistas/criadoras tinham 30 e poucos anos, os outros actores eram mais novos, e o contraste era deliberado e fazia parte de tudo. Aqui, Benito é um millennial a fazer uma série que parece passar-se nos dias de hoje, mas com muitas referências antigas, que não terão tanto significado para universitários actuais.

Tudo começa — é a primeira cena da série — com a personagem em nova, a ter um despertar sexual diante do Brendan Fraser de George — O Rei da Selva, um filme de 1997, a que assiste com os amigos em DVD, formato caído em desuso há largos anos. E, logo a seguir, a ver o teledisco de Lucky, de Britney Spears, uma canção lançada no ano 2000, seis anos antes de alguém que entra na faculdade, suponha-se, em 2024, ter sequer nascido. Há menções a Glee e Twilight, um poster — que ganha vida — de Megan Fox numa parede, e outro de Welcome to the black parade, canção de My Chemical Romance lançada em 2006, num tecto.

Ao mesmo tempo, o Grindr, a aplicação de encontros LGBTQIA+ lançada em 2009, é uma peça central da vida das personagens, tal como os smartphones e as redes sociais dos dias de hoje. E é uma série com a chancela da A24, o venerado estúdio americano, e produção executiva de Jonah Hill e Charli XCX, a cantora e autora de Brat, o disco-fenómeno do Verão passado, que é também responsável pelas escolhas musicais — “foi a banda sonora da minha experiência universitária”, disse o criador na estação de rádio Newsportu. A própria aparece num episódio, a cantar temas anteriores a Brat, alguns lançados nos últimos cinco anos.



Passa-se, portanto, numa altura difusa, que pode ser agora, mas claramente reflecte a adolescência das pessoas que a protagonizam e escrevem. De um modo estranho, acaba por espelhar um certo retorno ao reaccionarismo no que toca a orientações sexuais que está agora em curso, mas não só, também uma certa fadiga com o identitarismo.

Chegado à faculdade, Benny quer manter a fachada de que é heterossexual. É-lhe dito, e imposto, que tem de dormir com uma mulher logo na primeira noite. Conhece Carmen (Wally Baram, até agora argumentista de séries como What We do in the Shadows, Betty ou Shrinking, na sua estreia como actriz), que também foi pressionada pela companheira de quarto, Hailee (uma actriz creditada apenas com o monónimo Holmes e talvez a personagem com mais piada de toda a série), a dormir com alguém. É tudo tão confrangedor, feito de forma mecânica e tão performativa como a ideia de masculinidade tóxica que o protagonista tenta passar. Aí nasce uma relação entre os dois, uma amizade que é a história de amor central da série, mesmo que Benny desenvolva uma paixão por Miles (Rish Shah), um estudante londrino. A química entre os dois é muito grande, cheia de charme e piada, e um dos maiores prazeres de Overcompensating.

Benny vai navegando este mundo novo e é convidado para uma sociedade secreta ultratóxica, cujo cabecilha é o namorado (Adam DiMarco, da segunda temporada de The White Lotus e hoje com 35 anos) da irmã (interpretada por Mary Beth Barone), também estudante da mesma universidade. Numa entrevista à Harper’s Bazaar, Skinner menciona que o mundo das fraternidades e das praxes por que passou na faculdade é altamente homoerótico: “Lembro-me de estas coisas parecerem mais gay do que quando estou com um grupo de homens gays. Os homens heterossexuais vivem fascinados com o sexo gay. Vivem fascinados com pilas.”

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