Riffs à duna, sem sobreposições
Caminha, terra de incomparável fertilidade festivaleira, tem a postos mais um dos trunfos do seu calendário estival. À praia da Duna dos Caldeirões, na margem sul da foz do Âncora, convergem novamente os adeptos do lado mais stoner, doom, sludge e psicadélico do rock, conforme é condensado no Sonic Blast.
Com a organização a reforçar o compromisso de “dar música constante aos festivaleiros sem quaisquer sobreposições”, a edição número 13 distribui por três palcos um cartaz em que alinham perto de 40 nomes. Sobressaem as malhas doom dos Amenra, o punk hardcore dos Circle Jerks, as manobras psicadélicas dos Earthless, o sentido poético de Emma Ruth Rundle, as lições dos pioneiros stoners Fu Manchu, os King Woman de Kristina Esfandiari e, entre outros, esse organismo dançante e desenfreado que é o power trio lisboeta Maquina.
Festim de Amores Proibidos
Com libreto de Francesco Maria Piave, a partir do romance A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas filho, La Traviata centra-se num amor impossível, que encontra o seu maior obstáculo na diferença de classes. A protagonista é Violetta, que recusa resignar-se a esses e outros entraves que a sociedade lhe coloca. É ela a abrir e dar o tom a um Operafest que, depois de se ter rendido a um Instinto Fatal no ano passado, cai nas malhas de Amores Proibidos na sua sexta edição.
O festival é lisboeta, mas é no município vizinho de Oeiras que começa. A ópera de Verdi ecoa no Convento da Cartuxa, em Caxias, que também será cenário de uma rave operática comandada por Tó Trips & Fake Latinos, Bateu Matou e DJ Marfox. Lisboa há-de assistir à barroca Dido e Eneias, de Purcell, na Aula Magna, e à estreia nacional de Julie, de Philippe Boesmans (baseada em Strindberg), na Culturgest. O fecho da cortina está reservado a Sintra, onde o Centro Cultural Olga Cadaval encanta famílias com A Flauta Mágica, de Mozart.
Dirigido pela soprano Cristina Molder – para quem esta edição representa “um acto de resistência e empatia” – e produzido pela Ópera do Castelo, o festival propaga-se também por oficinas, conferências dadas pelos musicólogos Paulo Ferreira de Castro e Rui Vieira Nery, e um ciclo de cine-óperas na Cinemateca.
Dança interplanetária em força
Não muito longe dali, na sede do mesmo distrito – Viana do Castelo – e nas mesmas datas, ergue-se outro festival ao ar livre. Muda o rio (estamos à beira do Lima), muda o enquadramento (para uma fortaleza secular) e muda, sobretudo, o ritmo (venham daí electrónicas para dançar até à manhã seguinte).
No epicentro do 18.º Neopop, movido temática e visualmente pelo conceito de Interplanetay Dance Music, está um fluxo tecno servido por um plantel que mistura mãos da velha e nova guarda: Charlotte de Witte, I Hate Models, Jeff Mills, Klangkuenstler, Manfredas & Ivan Smagghe, Pan-Pot, Peach, Ritchie Hawtin, Rødhåd, Sven Väth e dezenas de outros.
Da Amazónia à raia
A raia alentejana aponta o foco ao ibérico Periferias – Festival Internacional de Cinema de Marvão e/y Valencia de Alcántara. A abertura oficial é feita no Castelo de Marvão por duas fitas sobre o “pulmão verde do mundo”. Amazónia Vermelha, de Felipe Brêtas – 15 minutos de “uma experiência sensorial que dá voz a uma floresta em agonia” –, abre caminho para O Último Azul, de Gabriel Mascaro, que trouxe de Berlim o Urso de Prata com a história de uma septuagenária que ruma à floresta com o objectivo de cumprir um sonho final.
A 13.ª edição prossegue, ora deste lado da fronteira ora do outro, com películas como A História de Souleymane, El 47, Flow – À Deriva, Raiano, Hanami, A Vida Luminosa, Quinografía, Advocate ou Happier, Happier, Happier (com o realizador, Noiserv, presente também para dar música), e espaço para concertos, visitas, passeios, encontros e uma atenção particular “à riqueza cultural do povo cigano”.
Reggae para uma ou duas noites de Verão
No “pulmão de Lisboa”, onde por estes dias o Monsantos Open Air estende o relvado a concertos, festas e outras descontracções estivais, a agenda está a prestes a seguir o ritmo de Alpha Blondy, o septuagenário (e já lendário) músico-pacifista-activista que pôs a Costa do Marfim no mapa do reggae. Vem rever mais de quatro décadas de carreira, contados desde o álbum Jah Glory (1982), e entoar canções como Jerusalem.
Não é o único a espalhar mensagens destas por aqui: em menos de um mês, o mesmo palco acolhe outra referência, mas de espiritualidade radicada na Jamaica: Anthony B. Ambos os concertos começam ao fim do dia e são antecedidos, a partir das 17h, por aperitivos musicais servidos por DJ residentes.
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