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Porque é que investir em países vulneráveis ao clima faz sentido para as empresas? | Análise

Num porto em Chittagong, Bangladesh, algo notável está a acontecer. Com o apoio de um investimento de 850 milhões de dólares (mais de 720 milhões euros) atribuído pelo Banco Mundial, engenheiros estão a construir infra-estruturas resistentes a inundações que podem sobreviver ao aumento do nível do mar e a tempestades mais fortes. Uma nova barreira de quase 60 quilómetros de comprimento protegerá pessoas, casas e comércio numa das regiões mais vulneráveis ao clima do mundo.

Projectos como este fazem mais do que salvar vidas. Mostram por que é que investir na adaptação climática é uma das oportunidades financeiras mais inteligentes do nosso tempo.

Há muitas conferências globais onde os líderes discutem as alterações climáticas e fazem grandes promessas. No entanto, menos de 5,5% do financiamento climático global chega realmente aos países em maior risco. Isso não é apenas uma injustiça. É uma oportunidade perdida de causar um impacto real.

O mundo reuniu-se em Sevilha, Espanha, para a quarta Conferência sobre o Financiamento do Desenvolvimento (FFD4). O foco deve ir além das promessas e mudar para investimentos práticos e concretos em resiliência.

Na reunião anterior das Nações Unidas sobre financiamento climático, também realizada em Sevilha, os líderes concentraram-se em corrigir a forma como o dinheiro público flui através das instituições globais. Mas igualmente importante é a necessidade de investir na adaptação climática. Isso significa ajudar as pessoas a viver com as mudanças que já estão a acontecer, incluindo mais inundações, secas mais longas, o aumento do nível do mar e calor intenso.

Enquanto a mitigação visa impedir que as alterações climáticas piorem (por exemplo, mudando para energia limpa ou protegendo florestas que absorvem carbono), a adaptação visa lidar com os efeitos [das alterações climáticas] que já não podemos evitar. Isso inclui construir casas mais resistentes, cultivar culturas mais resilientes e melhorar hospitais e escolas para que possam continuar a funcionar durante condições meteorológicas extremas. Ambas as abordagens são necessárias, mas a adaptação muitas vezes recebe menos atenção. E menos dinheiro.

Os investidores privados já comprometeram grandes somas para projectos de energia limpa. Mas fizeram muito menos para apoiar as comunidades na linha de frente das alterações climáticas. Muitos desses países lutam com orçamentos limitados, regras complexas para aceder ao financiamento e falta de apoio para desenvolver projectos viáveis. Assim, ideias promissoras muitas vezes ficam sem financiamento.

Isso está a começar a mudar. Novas ferramentas estão a ajudar os investidores a assumir menos riscos e a apoiar mais projectos. Estas incluem empréstimos a juros baixos, parcerias entre instituições públicas e privadas e garantias que reduzem o risco de fracasso.

O Fundo Verde para o Clima é a maior fonte de financiamento dedicado ao clima para os países em desenvolvimento. Até ao final de 2023, tinha aprovado 13,5 mil milhões de dólares (cerca de 11,5 mil milhões de euros) em financiamento, aumentando para 51,9 mil milhões de dólares (44 mil milhões de euros) quando se inclui o co-financiamento. Este dinheiro ajuda a desbloquear esforços de adaptação que antes estavam fora de alcance.

Já podemos ver progressos. No Quénia e na Etiópia, os agricultores estão a usar sementes resistentes à seca para cultivar mais alimentos em condições em mudança. Nas Caraíbas, a energia solar está a alimentar escolas e clínicas em comunidades remotas. E no Bangladesh, a nova infra-estrutura portuária em Chittagong está a proteger um centro económico vital, ao mesmo tempo que impulsiona os negócios locais.

Trabalhar com a natureza

Nas zonas costeiras, a restauração das florestas de mangais pode reduzir a força das tempestades, proteger a biodiversidade e apoiar a pesca. O Pollination Group, uma empresa de investimento climático, está a ajudar a transformar soluções baseadas na natureza como estas em projectos que atraem financiamento privado.

Na sua função anterior como Príncipe de Gales, o Rei Carlos III lançou a Natural Capital Investment Alliance, uma iniciativa que visa mobilizar dez mil milhões de dólares (8500 milhões de euros) para projectos que restauram e protegem a natureza, oferecendo simultaneamente retornos financeiros sólidos.

A aliança também ajuda os investidores a compreender melhor este tipo de oportunidades, criando orientações e normas mais claras. Apoia a Terra Carta, uma carta criada pelo Rei Carlos III que oferece um roteiro para as empresas se alinharem com as necessidades das pessoas e do planeta até 2030.

Os investidores que entram nestes espaços emergentes ganham mais do que retornos financeiros. Constroem relações de longo prazo com governos e comunidades locais. Ajudam a moldar as políticas futuras. E criam bases duradouras para o crescimento em locais que estão prontos para liderar, se lhes for dada a oportunidade.

Os projectos de adaptação também trazem benefícios reais para as pessoas. Melhoram o acesso à água potável, protegem o abastecimento alimentar, criam empregos, fortalecem a educação e apoiam os sistemas de saúde. Para as famílias que já enfrentam perturbações climáticas, estas mudanças não são apenas melhorias. São salvações.

Ao criar ambientes estáveis e acolhedores para o investimento responsável, os governos podem acelerar essa mudança. Ao simplificar o acesso ao dinheiro, as instituições internacionais podem facilitar que boas ideias se tornem projectos financiados. Grupos filantrópicos e agências de desenvolvimento podem ajudar a desenvolver competências locais e preparar projectos para financiamento. Investidores privados podem trazer capital, inovação e experiência.

Investir na adaptação climática não é mais apenas uma questão moral. É uma resposta inteligente, escalável e necessária a um mundo em mudança.


Exclusivo Azul/The Conversation
Consultor do Centro de Geopolítica das Mudanças Globais da ODI Global The Conversation

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