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Professor se inspira no filho para contar a história do Brasil para jovens | Educação

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O professor e pesquisador Ivan Lima, 36 anos, natural do Recife, Pernambuco, há quase sete anos vivendo no Porto, em Portugal, teve no filho Ernesto, de três anos e nove meses, a inspiração para refletir sobre o ensino da história do Brasil em terras lusitanas. Com essa perspectiva, ele lançou o curso História do Brasil para Adolescentes, que terá sua primeira edição nos dias 8 a 10 de abril no Instituto Pernambuco Porto.

Lima sentiu a necessidade do curso ao observar o filho crescer prevendo que ele não vai ter acesso à história do seu país de origem. Foi quando se deu conta da lacuna que se criava na sua formação, que decidiu criar um curso especial destinado a este público. “Aqui não se estuda a história do Brasil, mas a história da colônia portuguesa”, sintetiza.

Segundo o professor, mesmo tendo por objetivo mostrar a memória do país aos brasileiros, a iniciativa está aberta a outras nacionalidades, para que outros adolescentes tenham acesso à história do Brasil. Ele só estabelece uma limitação: as turmas não vão poder ter mais que 25 alunos.

Para a primeira edição, ele escolheu a semana da Páscoa, período em que os alunos não estão na escola e têm tempo livre para frequentarem o curso. “É o primeiro curso dos muitos que pretendo empreender, de agora em diante”, afirma. Os planos são de realizar edições em Lisboa e Braga ainda neste semestre.

A base da iniciativa do pernambucano foi a constatação de que atualmente existe um significativo número de crianças e adolescentes brasileiros sendo educados em Portugal. Porém, conforme o professor, “a visão que os alunos têm do Brasil é, em grande medida, apenas proveniente do sistema de ensino português, seja ele público ou privado. Por uma questão de natureza curricular, acabam por não ter contato com importantes referências históricas, geopolíticas, sociais e culturais do Brasil”, sentencia.

A constatação que fez o professor criar o curso foi de que a juventude não tem acesso às informações. “Meu filho estava crescendo sem a perspectiva de saber informações importantes sobre a história do Brasil, sem ter acesso aos fatos e sem compreensão da realidade do país em que nasceu e de suas origens”, frisa. Na sua visão, se uma pessoa cresce sem este tipo de conhecimento, perde a base da identidade nacional, fica sem o sentimento de pertencimento.

Aprender com música

O professor não vai se limitar ao que é ensinado nas escolas do Brasil. Reconhecendo a dificuldade de abranger todo o período colonial, ele vai concentrar as aulas em um período mais curto. “O curso, nesse primeiro momento, vai ter um foco nos séculos XV, XVI e XVII”, relata.

Lima vai começar por desmistificar a ideia de que os povos originais que viviam no Brasil quando os portugueses chegaram eram todos iguais e que tinham uma estrutura social e desenvolvimento técnico semelhante. “Primeiro, vou falar um pouco sobre os grupos étnicos diferentes que existiam no Brasil no momento da chegada dos portugueses, porque os indígenas não são todos os iguais. Vou tratar da variação das línguas, dos diferentes formatos de organização social, além da localização deles no território brasileiro”, conta.

O curso não vai deixar de tratar da chegada dos europeus ao Brasil. “Outra parte que vou falar será a administração colonial no Brasil, as primeiras escolas que foram fundadas, as primeiras missas, os aldeamentos, as primeiras missões e também a relação com a América Hispânica e a ocupação do Brasil. É importante entender as feitorias, que existiam na África portuguesa, assim como as capitanias hereditárias, que foram criadas na colonização da África e que depois foram exportadas para o Brasil. É importante perceber que o modelo da colonização do Brasil é inaugural em muita coisa, em em outras não. Esse formato de colonização já existia na África. E, consequentemente, falar um pouco sobre as formações religiosas do Brasil. Por exemplo, a ordem Jesuíta, que foi criada quase praticamente em consonância com a colonização brasileira“, relata.

As aulas não vão ficar apenas no papel que os portugueses tiveram na formação do Brasil. “Também será incluída a presença holandesa. Alguns nomes, como Vanderlei, são da herança holandesa. Mas também há influências francesas, das invasões do Rio de Janeiro e do Maranhão”, exemplifica.

Além dos europeus, o curso vai incluir a chegada forçada dos africanos para o Brasil, para o trabalho escravo, procurando desconstruir alguns mitos. “Claro que a gente vai falar da formação dos quilombos, do tráfico de escravos e dos grupos étnicos que foram levados para o Brasil. Os brasileiros têm uma ideia de que os escravizados no Brasil vieram de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. A nossa relação com as regiões que hoje são esses países passou a ser completamente diferente no século XVIII e XIX, mas no século XVI e XVII eram outros. A gente tem muita gente que veio da Nigéria, do Congo. Vou falar também um pouco sobre isso. A gente vai mapear e desenhar esse atlas da relação entre Brasil, África e Portugal”, indica.

O formato escolhido por Lima, que é doutorando em “História da Música Contemporânea do Brasil e de Portugal, não é o da aula tradicional. “Uma coisa que é essencial no curso é minha experiência de trabalhar com música. Vou usar música e cinema para a compreensão da realidade histórica brasileira daquele momento. Vou usar canções que ilustram o século XVI e XVII, esse confronto de mundos, apresentar a narrativa brasileira e a portuguesa, incluindo de autores contemporâneos, como Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Naná Vasconcelos e outros artistas do gênero”, revela.

Segundo Lima, o curso é dividido em módulos e pretende apresentar, de uma forma leve e didática, a narrativa da história brasileira, tendo como base a matriz curricular de História do Brasil elaborada pelo Ministério da Educação brasileiro (MEC). O objetivo não é se contrapor ao currículo escolar português, mas complementar e ampliar horizontes dos estudantes.

Sobre o professor

Ivan Lima é historiador, professor, pesquisador e idealizador do projeto O Que Cresci Ouvindo, em que produz conteúdo sobre música e história, incluindo o podcast Rádio OQCO. Este projeto foi vencedor do Prêmio Profissionais da Música 2022, no Porto.

Graduado e mestre em História, é doutorando pela Universidade do Porto e integra, desde 2019, o Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (CITCEM – Universidade do Porto). É docente, com 15 anos de experiência no ensino de História Geral e do Brasil.

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