Construtoras com volumes de negócio acima dos 500 milhões de euros por ano, como têm Mota-Engil, Grupo Casais ou Teixeira Duarte, representam apenas 9% do setor em Portugal. A percentagem mais expressiva do mercado (43%) fatura abaixo dos 20 milhões, de acordo com um barómetro divulgado esta sexta-feira pela Fundação Mestre Casais em parceria com a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN).
Cerca de quatro em cada dez (39%) têm um volume de negócios anual entre os 20 milhões e os 100 milhões de euros por ano, segundo o Barómetro da Indústria da Construção em Portugal, referente a 2024. A análise concluiu ainda que a maioria das construtoras nacionais (78%) têm menos de 250 trabalhadores e que é na região Norte onde se localizam as sedes de 43% das empresas, seguindo-se a Área Metropolitana de Lisboa (30%).
“Portugal é um país onde a indústria da construção civil continua a ser um motor económico, mas que vive um momento decisivo de transformação, para o qual necessita de mais ajuda do Estado, de forma a acelerar as sementes de inovação e sustentabilidade que o barómetro detetou e, finalmente, melhorar a produtividade e o seu valor acrescentado”, afirmou o coordenador do estudo, José Gomes Mendes, presidente-executivo da Fundação Mestre Casais e professor catedrático de Engenharia Civil da Universidade do Minho.
Portugal é um país onde a indústria da construção civil continua a ser um motor económico, mas que vive um momento decisivo de transformação, para o qual necessita de mais ajuda do Estado
O inquérito foi realizado através de entrevistas a 46 presidentes executivos (CEO) de empresas detentoras de alvarás das classes mais altas (7, 8 e 9, cujos valores máximos de obra são 12,5 milhões de euros, 19 milhões de euros e acima de 19 milhões, respetivamente) sobre três temas: contexto económico e as políticas nacionais, evolução do setor e práticas de inovação e sustentabilidade.
Desafiado a comentar os resultados desta análise, Carlos Mota Santos, CEO da Mota-Engil, a maior construtora nacional, defende que o setor será “crítico para a criação de valor económico e para a afirmação de Portugal no mundo” nos próximos anos.
No entanto, acredita que o caminho de desenvolvimento passa também por “os poderes públicos” atuarem como “facilitadores na desburocratização, na atração de mão-de-obra e no apoio à inovação e à internacionalização”.
Baixo crescimento global, guerras e inflação preocupam CEO
Questionados sobre a confiança na economia portuguesa, as respostas dos gestores deram uma média de 6,6 (numa escala até 10), até porque vislumbram como principais ameaças externas o baixo crescimento global (37%), as guerras (29%), a inflação (19%). Sobre o nível de investimento público em infraestruturas, metade (52%) vê de forma positiva e 46% têm uma visão negativa das políticas de habitação.
Na opinião do presidente da AICCOPN, Manuel Reis Campos, o barómetro “reflete alguns dos problemas prevalentes no setor da construção, mas também a vontade das empresas do setor de contribuir para o crescimento económico e de conquistar novos mercados, gerando emprego e valor importantíssimo para o país”.
Os resultados mostram ainda que 70% das empresas acreditam que cumprirão os seus objetivos de negócio em 2024, só 2% esperam quedas e 63% projetam subidas de até 15%. Em termos de segmentos, sobressaem outros edifícios (37%), residencial (34%), infraestruturas (28%) à boleia de privados (45%), Estado e (31%) e autarquias (24%).
Os clientes devem estar disponíveis para adaptar as suas políticas de investimento e os seus cadernos de encargos, sob pena de um tão importante setor ficar estagnado
Já o CEO do grupo Casais, António Carlos Rodrigues, optou por deixar um alerta: tanto os clientes públicos como os privados devem ser ter planos de investimento mais flexíveis para não penalizarem a indústria.
António Carlos Rodrigues defende que os contratantes estejam mais “disponíveis para adaptar as suas políticas de investimento e os seus cadernos de encargos”, para que o setor não estagne, apesar de estar a esforçar-se em melhorar a produtividade através da descarbonização e transformação digital.
IA ainda por construir
A dar os primeiros passos de forma generalizada está a adoção de novas tecnologias, nomeadamente a Inteligência Artificial (IA). O processo digital mais utilizado – ou de forma mais completa – é o BIM – Building Information Modeling, que consiste na criação e gestão de representações virtuais dos edifícios ou outros ativos físicos.
Mais de metade dos inquiridos (54%) usam BIM de forma total ou parcial, enquanto 24% planeiam adotar em breve. Por outro lado, nenhuma construtora está a utilizar IA “de forma plena”, embora 24% a tenha instalado parcialmente e 43% estude implementar nos próximos dois anos.
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