Os computadores não raciocinam, não têm sentimentos e não são dotados de inteligência. São programados para responderem a comandos e, no caso dos chatbots mais avançados, processam volumes de dados.
Tenho presente que o leitor mais incauto estranhará o título e o conteúdo deste artigo, por serem aparentemente contrários àquilo que é a euforia coletiva da utilização das ferramentas da denominada inteligência artificial, às quais, refira-se, reconheço enorme utilidade.
Recentemente, juízes desembargadores do Tribunal da Relação de Lisboa terão, alegadamente, recorrido a ferramentas de inteligência artificial para elaborar um acórdão, citando legislação e jurisprudência inexistentes, o que originou a abertura de um processo de averiguação por parte do Conselho Superior de Magistratura.
Sucedem-se, a nível global, os processos judiciais com informações erradas (por vezes alegadamente apresentadas pelos próprios advogados), que foram obtidas através de recurso a ferramentas de inteligência artificial.
No entanto, o conceito de inteligência artificial, enquanto tal, não é recente: tem praticamente setenta anos, considerando que os primeiros registos desta expressão datam de 1956.
Já em 1984, no famoso filme “O Exterminador Implacável”, ciborgues dotados de inteligência artificial ameaçavam a humanidade, alertando-nos para os potenciais perigos do desenvolvimento de algumas tecnologias.
Em 1996, Gary Kasparov, campeão mundial de xadrez, jogou seis partidas contra o Deep Blue, um supercomputador dotado de um software específico, tendo aquele vencido três jogos, empatado dois e perdido um. Pela primeira vez, um computador vencia uma partida contra um campeão do mundo. Ainda que o xadrez seja um jogo de lógica, estratégia e aritmética, este confronto permitiu, já então, relançar o tema da inteligência artificial e da medição de forças entre o Homem e a máquina.
Há vários anos que chatbots permitem o diálogo entre humanos e máquinas, seja em serviços digitais de atendimento ao cliente, seja em plataformas de comunicação, como o WhatsApp.
As bases da inteligência artificial, apesar da sua evidente evolução (como em qualquer outra tecnologia) não são recentes. O que é recente é a democratização da utilização de aplicações associadas à mesma, bem como a popularização do termo inteligência artificial, o qual é enganador.
A inteligência está intrinsecamente ligada ao pensamento, à capacidade de refletir de forma abstrata, de inventar e de inovar, traduzindo-se na capacidade prática de interpretar, de aprender, de adaptar, de sentir, de compreender e de utilizar a razão. São características que são inerentes ao ser humano, que o diferenciam de outros animais e, se me permitem a ousadia, também o diferenciam de computadores e de máquinas. Utilizar algo que torna o ser humano especial e associá-lo a um programa de computador dá jeito a quem investe, vive e trabalha a partir dessa tecnologia, mas é desvirtuador da realidade.
Os computadores não raciocinam, não têm sentimentos e não são dotados de inteligência. São programados para responderem a comandos e, no caso dos chatbots mais avançados, processam volumes de dados, organizam-nos, sistematizam-nos e apresentam-nos em forma de resposta. Útil, sem dúvida.
A tecnologia pode e deve ser utilizada a favor do desenvolvimento da humanidade e do progresso social. Mas, tal como sucedeu com os sistemas operativos com interface gráfica ou os motores de busca, que se popularizaram na década de 90 e que foram absolutamente inovadores, a tecnologia deve ser utilizada com critério, com razoabilidade e, acima de tudo, ser complementada com uma revisão cuidada das informações obtidas e dos resultados alcançados. E essa revisão deve ser preferencialmente realizada por alguém com inteligência. Humana, entenda-se.
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