Esta segunda-feira começa a seleção do júri em Nova Iorque para o gigantesco julgamento federal do magnata da música Sean “Diddy” Combs por tráfico sexual, que é acusado por anos de terríveis abusos.
Combs, de 55 anos, declarou-se inocente de todas as acusações, insistindo que todos os atos sexuais foram consensuais — mas os procuradores afirmam que ele coagiu as suas vítimas em festas sexuais regadas a drogas, usando ameaças e violência, durante anos.
Numa recente audiência, o seu advogado Marc Agnifilo ofereceu uma antecipação da defesa da sua equipa, descrevendo o estilo de vida “swinger” e livre do artista.
O Ministério Público afirmou ter oferecido a Combs um acordo judicial — os detalhes não foram divulgados —, mas ele rejeitou-o.
Combs enfrenta uma acusação de conspiração para extorsão, o estatuto federal conhecido pela sigla RICO, que já foi usado principalmente para atingir a máfia, mas que nos últimos anos tem sido usado em casos de abuso sexual, incluindo contra a estrela do R&B caída em desgraça R. Kelly.
A acusação permite que os advogados do governo projetem uma visão de longo prazo da atividade criminosa em vez de processamento de crimes sexuais isolados.
Se for condenado, o antigo produtor de rap e estrela global, frequentemente creditado pelo seu papel por levar o hip-hop para o “mainstream”, poderá passar o resto da sua vida na prisão.
Ao longo de décadas, Combs — que já usou vários nomes artísticos, incluindo Puff Daddy e P. Diddy — acumulou uma enorme riqueza pelo seu trabalho na música, mas também pelos seus empreendimentos na indústria de bebidas alcoólicas.
Foi preso por agentes federais em Nova Iorque em setembro de 2024 e viu o seu pedido de fiança negado diversas vezes.
Combs está detido no notório Centro de Detenção Metropolitano de Brooklyn, uma unidade assolada por denúncias de pragas e decadência, além de violência.
Entre os detidos famosos estão Kelly, Ghislaine Maxwell, sócia de Jeffrey Epstein, e Sam Bankman-Fried, o empreendedor de criptomoedas condenado por fraude.
Combs compareceu às audiências de pré-julgamento com uma aparência notavelmente envelhecida, com o seu cabelo, antes preto azeviche, agora crescido e grisalho.
A data de início da seleção do júri é, notavelmente, a primeira segunda-feira de maio — a mesma da Met Gala de Nova Iorque, uma festa anual de beneficência de celebridades reluzentes onde Combs já foi um dos principais nomes da passadeira vermelha.
Há apenas dois anos, ele posou para as câmaras naquele evento, mas esta segunda-feira no centro de Nova Iorque num tribunal federal, enquanto cidadãos encarregues de determinar o seu destino enfrentam uma enxurrada de perguntas de advogados de ambos os lados.
A seleção do júri deve durar cerca de uma semana, com as declarações iniciais provisoriamente agendadas para 12 de maio.
Estima-se que o processo dure de oito a dez semanas.
“Freak-offs”
O cerne do caso é o relacionamento de Combs com a sua ex-namorada, a cantora Casandra “Cassie” Ventura, que deverá ser uma testemunha-chave no julgamento.
Um vídeo de vigilância perturbador de 2016, exibido pela Newsportu no ano passado, mostra Combs a agredir fisicamente Ventura num hotel.
Os procuradores afirmam que o encontro ocorreu após uma das célebres festas “Freak-offs”, que alegam serem uma característica do seu padrão de abuso.
As chamadas “Freak-offs” eram maratonas corcivas de sexo e drogas que incluiam prostitutas e por vezes filmadas, de acordo com a acusação.
Não está claro quanto do vídeo da Newsportu será mostrado aos jurados como prova no tribunal — a qualidade das imagens tem sido um ponto de discórdia entre as equipas jurídicas adversárias —, mas o juiz Arun Subramanian decidiu que parte dele será pelo menos admissível.
As comportas abriram-se após Ventura apresentar uma ação civil alegando que Combs a sujeitou a mais de uma década de coerção através de força física e drogas, além de um violação em 2018.
O processo de 2023 foi rapidamente resolvido fora do tribunal, mas seguiu-se uma série de acusações por agressão sexual igualmente escabrosas contra o vencedor dos prémios Grammy, tanto de mulheres como de homens.
“Tempestade perfeita”
Observadores da indústria musical estão a monitorizar o caso de Combs como um potencial ponto de inflexão no mundo da música que, além do caso de Kelly, escapou em grande parte da repercussão do movimento #MeToo que abalou Hollywood.
Caroline Heldman — cofundadora da organização Sound Off Coalition, focada em violência sexual na música — disse que o caso de Combs é o ponto crítico de um padrão mais amplo de tolerância da indústria e encobrimento de abusos.
“Na indústria musical, penso que é a combinação perfeita entre o que as celebridades fazem com as pessoas e o que o poder faz com elas. Isso dá-lhes um défice de empatia, onde as regras não se aplicam a elas”, explicou.
Sobre o caso de Combs, disse à agência France-Presse que está “otimista que será feita justiça”.
“Espero que isso inspire outras sobreviventes a apresentarem-se.”
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