Fizeram-nos acreditar que Marte era vermelho, como o deus da guerra, a sua cor vermelha associada ao sangue, mas a história do seu tom oxidado vem de longe. Agora, uma nova investigação deitou essa ideia por terra.
Marte não é vermelho do sangue dos deuses guerreiros
A tonalidade avermelhada de Marte é visível a olho nu. Talvez devido à associação do vermelho com o sangue, os babilónios ligaram-no a Nergal, o seu deus da guerra, algo que também fizeram os gregos e romanos ao chamá-lo Ares e Marte. Quanto à razão pela qual é um planeta vermelho, há novidades.
Durante muito tempo, soube-se que o tom avermelhado característico de Marte se devia à presença de óxidos de ferro no pó da sua superfície.
Um novo estudo internacional, que combina dados da Agência Espacial Europeia (ESA) e da NASA com experiências laboratoriais, sugere que estes óxidos de ferro se formaram na presença de água muito antes do que se pensava.

A questão fundamental de por que Marte é vermelho tem sido considerada por centenas, se não por milhares de anos...
Até há pouco tempo, acreditava-se que o óxido de ferro predominante em Marte era a hematite, um mineral que pode formar-se com pouca ou nenhuma presença de água líquida à superfície, desde que exista um agente oxidante na atmosfera.
No entanto, novas observações e análises laboratoriais mostram indícios claros de água na assinatura espectral do pó marciano. Esta descoberta aponta para a ferrihidrita, um óxido de ferro com moléculas de água integradas na sua estrutura, como responsável pelo inconfundível tom vermelho do planeta, evidenciando que Marte teve um passado mais húmido do que se pensava.
Ferrugem marciana
A ferrihidrita é um mineral mal cristalizado e rico em ferro, que se forma rapidamente na presença de água fresca e em condições moderadas de oxidação.
A sua estrutura retém moléculas de água ou outros grupos hidroxilo no interior, deixando um registo hídrico mesmo sob condições posteriores mais secas. Esta característica contrasta com a hematite, que é anidra e muito mais estável na ausência de água líquida. Assim, a descoberta de ferrihidrita implica que Marte teve, no passado, períodos com água líquida relativamente abundante.
Para chegar a esta conclusão, os investigadores combinaram medições de várias sondas e rovers da ESA (Mars Express e Trace Gas Orbiter) e da NASA (Mars Reconnaissance Orbiter, Curiosity, Opportunity e Pathfinder) com experiências laboratoriais.
Estas experiências consistiram em criar pó marciano simulado, misturando ferrihidrita com basalto moído em partículas cem vezes mais finas do que um cabelo humano. Depois, mediram as propriedades óticas destas amostras, tal como fazem os instrumentos em Marte, confirmando que a ferrihidrita explicava melhor as assinaturas espectrais do planeta vermelho.
Sim, Marte é vermelho e a razão é a oxidação do planeta
Na Terra, a ferrihidrita tende a transformar-se, com o tempo, em fases mais cristalinas (como a goetita ou a hematite) se as condições de temperatura e disponibilidade de água o permitirem. Marte, no entanto, é extremamente frio, seco e tem uma atmosfera muito pouco densa.
Estas condições dificultam essa transformação e favorecem a preservação da ferrihidrita tal como está, mantendo o seu “selo de água” apesar dos milhares de milhões de anos decorridos desde a sua formação.
A imagem de Marte como um planeta árido e avermelhado não mudou com este estudo, mas a nossa compreensão do seu passado sim.
A confirmação de uma fase de oxidação na presença de água indica que o planeta teve períodos mais húmidos e com potencial para albergar vida.
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