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“The Naked Gun: Aonde é Que Para a Polícia?!”: a prova que rir só por rir também é arte, com Liam Neeson e Pamela Anderson

A HISTÓRIA: Só um homem tem as habilidades necessárias para liderar a Polícia e salvar o mundo! O Tenente Frank Drebin Jr. segue os passos do seu pai.

“The Naked Gun: Aonde é Que Para a Polícia?!”: nos cinemas desde 31 de julho.


Crítica: Manuel São Bento
(Aprovado no Rotten Tomatoes. Membro de associações como OFCS, IFSC, OFTA. Veja mais no portfolio).

Ao longo das décadas, a comédia “slapstick” e o humor “deadpan” foram-se tornando cada vez mais raros. Num panorama cinematográfico onde a sátira física e o riso inocente cederam lugar a ironias mais mordazes ou humor autorreferencial pós-moderno, o regresso da saga “The Naked Gun” soa a uma lufada de ar fresco… ou, perdoem-me, a um peido inesperado em plena sala de reuniões, para respeitar o tom da saga.

“The Naked Gun: Aonde é Que Para a Polícia?!” é realizado por Akiva Schaffer (“Popstar: Sem Parar, Sem Limites”) e escrito em conjunto com Dan Gregor e Doug Mand (“Chip ‘n Dale: Rescue Rangers”). Esta nova entrada serve como uma sequela-tributo ao legado deixado pelos criadores originais, mantendo o espírito parvo, absurdo e irresistivelmente divertido. No centro da ação está Liam Neeson (“Taken”), que interpreta Frank Drebin Jr., o filho do icónico detetive da polícia, agora a braços com uma conspiração tão ridícula quanto misteriosa. A acompanhá-lo temos Pamela Anderson (“Marés Vivas”) no papel de uma viúva sensual, Danny Huston (“Os Filhos do Homem”) como o típico vilão multimilionário e uma série de participações especiais inesperadas (“cameos”) que arrancam gargalhadas de surpresa e prazer.

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Apesar de nunca ter crescido com os filmes ou série originais, nem sequer estar familiarizado com os mesmos antes da visualização deste novo capítulo, rapidamente percebi o porquê de serem tão adorados. A comédia física, as piadas autoconscientes, os confrontos ridiculamente coreografados… tudo isso encaixa perfeitamente no meu gosto pessoal. A magia destas comédias reside na sua previsível imprevisibilidade – sabemos que algo vai acontecer, mas nunca conseguimos antecipar o quê exatamente, nem como será a execução… e é essa desconstrução constante da lógica narrativa que sustenta o humor.

Desde o início, o realizador estabelece um tom que presta homenagem direta às raízes da saga. O enredo gira à volta de uma ameaça terrorista ligada a um objeto misterioso chamado… P.L.O.T. DEVICE [dispositivo da história, em tradução livre]. Esta autorreferência é apenas uma entre dezenas de piadas metatextuais espalhadas ao longo da curta duração do filme (85 minutos), que nunca perde tempo com exposições desnecessárias ou dramatizações supérfluas. Aqui, tudo existe para fazer rir – e tudo funciona.

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Neeson não é, de todo, conhecido pela sua vertente cómica, pelo menos não para o público geral, apesar de já ter dado o ar da sua graça em “Mil e Uma Maneiras de Bater as Botas” ou num episódio da série “Life’s Too Short”. A verdade é que tem um talento inato para a comédia. As suas expressões carregadas de seriedade em contextos completamente absurdos são a alma desta sequela. A sua entrega nunca trai o personagem, mesmo quando o mundo à sua volta se desintegra em caos hilariante. Há algo de fantástico em vê-lo a reagir com total convicção mesmo aparecendo (quase) nu ou ao não compreender uma pista incrivelmente óbvia.

Anderson, por sua vez, assume com gosto o papel de arquétipo feminino que remete parcialmente para as “femme fatales” dos filmes “noir”, mas subvertido com exagero e ingenuidade. Huston compõe um vilão clássico, completo com risadas maléficas e planos tão elaboradamente idiotas que seria impossível não rir. Os restantes membros do elenco – muitos dos quais surgem em participações especiais que convém não revelar – completam este ecossistema de personagens intencionalmente bidimensionais, ao serviço de um tipo de humor que confia tanto nos trocadilhos verbais como nos tropeções literais.

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A homenagem ao auge do género passa ainda por detalhes técnicos deliciosos: os efeitos sonoros propositadamente “errados”, como punhos que soam a aço ou passos silenciosos que fazem o prédio todo ranger; as “gags” recorrentes, como a entrega de café por um estafeta anónimo fora do plano ou o uso exagerado de coreografia de luta; os momentos de exposição que incluem personagens a piscar o olho à câmara enquanto explicam as suas ações. É uma obra que não pede ao espetador para pensar – apenas para observar, rir e deixar-se levar.

Tematicamente, “The Naked Gun: Aonde é Que Para a Polícia?!” pode até parecer totalmente vazio, mas existe uma certa coragem na sua simplicidade. Num tempo em que tanto do cinema parece exigir subtexto, comentário social ou profundidade emocional, esta comédia posiciona-se como um lembrete de que entreter também é uma arte nobre. O filme combate a ideia de que o valor artístico de uma obra depende do seu grau de seriedade ou do peso das suas mensagens. Ao invés, aposta todas as fichas num humor acessível, sem malícia e que nunca se leva demasiado a sério – mesmo quando goza precisamente com esse tipo de cinema que se leva demasiado a sério.

A entrada para o terceiro ato perde um pouco do ritmo frenético, talvez por precisar de encerrar a narrativa com alguma coerência (por mais absurda que esta seja). Ainda assim, mesmo nos seus momentos mais previsíveis, a sequela encontra sempre uma forma de nos surpreender, seja através de uma reviravolta ridícula, uma piada visual genial ou uma aparição inesperada.

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Conclusão

“The Naked Gun: Aonde é Que Para a Polícia?!” é um regresso triunfante a um tipo de comédia que está em vias de extinção. É uma carta de amor a um subgénero muitas vezes desvalorizado, mas que, quando bem executado, consegue provocar risos genuínos como poucos. Liam Neeson lidera um elenco que se entrega por completo à parvoíce, num guião que honra o legado de uma das sagas de comédia que marcaram o século passado. Para quem cresceu com a mesma, acredito que seja uma viagem nostálgica e reconfortante. Para quem, como eu, chegou agora ao mundo de Frank Drebin (Jr.), é uma porta de entrada perfeita. Um espetáculo simples, leve e, acima de tudo, tremendamente hilariante – exatamente o que o cinema também deve ser.

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