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Tinder Eats | Crónica | PÚBLICO

Ser solteiro em 2025 é um pouco como olhar um menu de restaurante demasiado extenso: é difícil escolher entre tantas opções (aparentemente) disponíveis. O arroz de tamboril e gambas está mesmo a abrir-nos o apetite, mas a ocasião merece algo especial. Talvez um tagliatelle com carabineiros? Viramos a página e percebemos que, afinal, é carne que nos apetece. Um bife do lombo? Não parece má escolha, mas e se escolhêssemos antes umas bochechas de porco alentejano? Ou um bife Black Angus grelhado, por certo divinal? Como a monogamia está em crise, a solução talvez seja optar por vários petiscos, sempre provamos mais do que uma coisa. Ou então, ficamos em casa. É isso! Encomendamos um Tinder Eats!

O psicólogo Barry Schwartz chama-lhe o paradoxo da escolha. Em tese, nunca tivemos tantas oportunidades para encontrar o amor ou uma grande paixão, mas tamanha abundância, potenciada pelas redes sociais e pelas apps de encontros, faz com que bloqueemos e sejamos incapazes de decidir. O resultado desta procura incessante por alguém que preencha todos os nossos requisitos — tantas vezes irrealistas — está à vista: num mundo onde o sexo se tornou tão acessível como um hambúrguer de uma cadeia de fast food e onde podemos flirtar com uma dúzia de pessoas quase em simultâneo, encontrar quem possa ser co-protagonista de uma bonita história não ficou mais fácil.

Mesmo quando conhecemos alguém promissor, não tardamos a apontar-lhe defeitos. Somamos matches no Tinder, no Bumble e no Hinge, mas dispersamos tanto a nossa atenção que não investimos verdadeiramente em ninguém. Vivemos num constante toca e foge, sem nunca nos comprometermos muito. Fluímos. Deixamos rolar. O que tiver de ser, será. Queremos construir a casa pelo telhado, esquecendo as fundações. Tornámo-nos edifícios devolutos, onde não mora ninguém.

Se hoje arriscamos pouco é também porque já nos estatelámos tantas vezes ao comprido, já nos cansámos de montar os ossos do esqueleto para nos reerguermos uma e outra vez, já temos tantas cicatrizes no coração, que avançamos para cada nova possibilidade com uma armadura para nos proteger de todos os males. Tentámos e falhámos tanto que somos átomos de dor e desilusão. Muitas vezes, mesmo que esbarremos em alguém especial, estamos emocionalmente indisponíveis para nos entregarmos. Falhamos o timing.

Ainda haverá pessoas inteiras?

Com tantas possibilidades para encontrarmos alguém, andamos desencontrados do amor. Cuidemos bem dele. É verdadeiramente precioso.

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