Ao segundo dia de julgamento entre a dupla Sérgio e Nélson Rosado e a humorista Joana Marques, ouvem-se testemunhas sobre a queda de patrocínios do grupo musical Anjos. Chamados ao Palácio de Justiça a testemunhar, nesta quarta-feira, em Lisboa, dois representantes das empresas com quem os Anjos tinham celebrado contratos de patrocínio apontam a repercussão do vídeo publicado pela radialista como o motivo que levou ao cancelamento da relação contratual. “Cada de nós que tem o seu próprio negócio, o que não quer é má publicidade”, declarou Pedro Duque, gestor de empresas.
Pedro Duque falava ao final da manhã deste segundo dia de julgamento, em que a queda de patrocínios foi o tema dominante. Com uma marca ligada à “área da nutrição”, não adiantando qual, contratou os Anjos para “alavancar o nível de divulgação da marca”, uma vez que a banda “percorre o país inteiro”. O contrato celebrado em 2022 incluía um pagamento de mais de 35 mil euros (mais IVA) à banda, “além de todo o material” que seria dado para a promoção. “A ideia era, em alguns dos concertos mais emblemáticos promover a marca de uma forma mais agressiva, dando amostras”, especifica a testemunha dos Anjos.
Contudo, o contrato havia de ser dissolvido a 6 de Maio de 2022, depois de um pedido por parte de Pedro Duque aos Anjos. “Não me restava outra alternativa. Senti que as coisas tinham ganhado uma proporção de tal forma, toda a gente via nas redes sociais”, aponta, questionado pela advogada dos irmãos Rosado, Natália Luís, sobre o motivo por que decidiu quebrar o acordado e se o fez depois de ver o vídeo da actuação dos dois irmãos do Hino Nacional no MotoGP no Algarve. “Achei estranho porque reconheço a capacidade deles de cantar”, afiança.
No mesmo e-mail onde pedia a dissolução do contrato, Pedro Duque justificava também a decisão com a partilha de “pretensos comediantes que procuram a desgraça alheia”, o que o levou a reconhecer em tribunal que esse frase se tratava de uma “opinião pessoal”, mas sublinhou à advogada de Joana Marques, Elsa Seara: “Comédia não tem de passar por enxovalhar ou tratar mal o outro. Não sou especialista, trata-se de uma opinião pessoal.”
“Era muito mau”
Logo depois de Pedro Duque, seguiu-se o testemunho de Bruno Carvalho, que também assinou um contrato semelhante com os Anjos, no valor de 75 mil euros (mais IVA), igualmente para a promoção de uma marca ligada ao desporto e nutrição. O empresário começou por recordar a sua ligação pessoal à dupla musical. “Vivi em Angola e havia uma novela, A Vingança, que era a minha companhia e tinha a música dos Anjos”, contou, referindo-se à canção Eu Estou Aqui.
Mais tarde teve oportunidade de conhecer Nelson e Sérgio Rosado e firmar uma “empatia”, que acabaria por evoluir para os negócios. “Não me lembro de haver qualquer caso negativo do passado ligado aos Anjos. Pareceu-me que estavam reunidas as condições [para o contrato]”, testemunha Bruno Carvalho. Contudo, esse acabaria por ser denunciado “com efeitos imediatos” e “nunca teve início”.
E isso aconteceu depois de ter recebido “uma mensagem de uma colaboradora com um vídeo com algumas brincadeiras no meio”, descreve, garantindo que não sabia quem era Joana Marques na altura. “Na altura teve um impacto grande e fui estando atento aos comentários e reacções das pessoas”, continua. “Era muito mau?”, questiona a advogada dos Anjos. E Bruno Carvalho responde: “Era.”
Com o testemunho de Bruno Carvalho encerrou a manhã do segundo dia de julgamento, que contou ainda com especialistas da área da música e do audiovisual, trazidas pela defesa como argumento de que Joana Marques terá alterado o vídeo original da performance dos Anjos no MotoGP. O testemunho do maestro Nuno Feist, que marcou o arranque dos trabalhos, culpou a qualidade da transmissão que não corresponde ao talento dos Anjos. “As harmonias não são as mais óbvias, mas encaixaram no que é o Hino Nacional” e “não houve desafinação”, avaliou.
Já o técnico Sérgio Antunes, da Média Pro International, apontou também atrasos na transmissão, mas garante que o vídeo original “não foi tão mau” quanto a versão de Joana Marques, usada “para ridicularizar”.
O caso remonta a 2022, quando Joana Marques publicou, no seu perfil da rede social Instagram, uma montagem satírica da actuação dos Anjos a interpretar o hino nacional antes de uma prova do MotoGP em Portimão, que incluía reacções negativas do júri do programa Ídolos. Em resposta, os músicos alegam que sofreram perdas financeiras, com o cancelamento de concertos e contratos de patrocínio, e danos à reputação, levando-os a exigir uma indemnização de cerca de 1,2 milhões de euros à humorista.
Segundo os representantes legais dos cantores, a dupla tentou resolver a situação de forma informal, solicitando a remoção do vídeo, mas essas negociações falharam. Joana Marques diz que “nunca houve uma tentativa de acordo” e que a dupla musical sempre insistiu na retirada do vídeo.
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