O Vox, partido de extrema-direita espanhol, realizou uma conferência de imprensa esta segunda-feira em que defendeu a expulsão de sete ou oito milhões de pessoas com origem estrangeira, incluindo nascidas no país. As declarações foram feitas por Rocío de Meer, porta-voz de Emergência Demográfica e Políticas Sociais do partido, e noticiadas pelo jornal “El País”.
Apesar do motivo para o evento ser outro – a prisão de um refugiado acusado de violação –, a deputada optou por enfatizar uma visão descrita pelo jornal espanhol como “xenófoba” e “racista”. Deste modo, defendeu a preservação de uma suposta identidade espanhola, baseada na teoria da grande substituição.
De acordo com esta ideia, defendida por grupos neonazis europeus, a elite global tem como objetivo substituir a população branca por pessoas de outras etnias, ou seja, a entrada de imigrantes no país resultaria no fim da população espanhola. Para apoiar esta visão, de Meer usou um estudo de Alejandro Macarrón, investigador do Observatório Demográfico CEU-CEFAS, defendendo que em 2044 haverá mais população de origem estrangeira do que espanhola no país. No próprio Vox, há políticos que têm mães ou pais nascidos fora de Espanha, algo não mencionado no discurso.
“Se de 47 milhões de habitantes no nosso país, mais ou menos sete, ou mais de sete, porque temos de considerar a segunda geração, oito milhões são pessoas que vêm de diferentes origens em muito pouco tempo, então é extraordinariamente difícil que possam adaptar-se aos nossos costumes”, disse. Além disso, de Meer associa a imigração à falta de segurança, afirmando que ela faz com que “a tranquilidade em cidades, bairros ou praças já não seja a mesma”.
A porta-voz também deixou claro que o partido pretende aplicar um “plano extraordinariamente complexo de remigração”, ou seja, de expulsão de pessoas com origem estrangeira, mesmo que nascidas dentro das fronteiras espanholas. Esta política foi criada na Alemanha numa reunião entre neonazis, ultranacionalistas e empresários, e é defendida pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD, de extrema-direita).
Em Portugal, este conceito também não é novidade, tendo sido defendido no início do ano por André Ventura, líder do Chega, numa publicação em que o político se associava ao grupo neonazi 1143 e ao ultranacionalista Reconquista.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística espanhol, mencionados pelo “El País”, dos 49,1 milhões de habitantes, apenas 6,9 milhões são estrangeiros, representando apenas 14,1% da população.
Texto escrito por João Sundfeld e editado por Hélder Gomes.
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