A polícia indiana prendeu um YouTuber norte-americano, acusando-o de viajar para a remota Ilha Sentinela do Norte – lar de uma das tribos mais isoladas do mundo – sem autorização.
Mykhailo Viktorovych Polyakov, 24 anos, poderá ser condenado até um máximo de oito anos de prisão se for condenado.
Polyakov, originário de Scottsdale, Arizona, foi atraído para a ilha, onde vivem os Sentinelenses, devido à “sua paixão pela aventura e seu desejo de enfrentar desafios extremos”, disse a polícia das Ilhas Andamão e Nicobar, território autónomo da Índia, em comunicado.
Chegou a bordo de um barco insuflável com um coco e uma lata de Diet Coke como presentes para os indígenas, disse a polícia. Uma análise das imagens da sua GoPro mostra que ele entrou na ilha “reivindicando uma representação não oficial dos EUA”, disse a polícia em comunicado.
Foi a terceira tentativa de Polyakov para chegar à ilha, depois de ter sido impedido em Outubro de 2024 e Janeiro de 2025, disse a polícia, acrescentando que ele tinha planeado a viagem “meticulosamente”, incluindo pesquisas sobre as marés e o tempo.
Desembarcou na ilha mas não encontrou ninguém, segundo as autoridades, tendo permanecido cerca de cinco minutos enquanto recolhia amostras de areia e gravava um vídeo. Regressou então ao seu barco e permaneceu ao largo durante uma hora, apitando, mas sem obter qualquer resposta. Mais tarde, foi avistado por pescadores locais quando regressou à praia de Kurma Dera. Os pescadores informaram as autoridades.
A visita à ilha é ilegal e o Governo indiano patrulha uma zona de protecção de três milhas à sua volta para proteger os que lá vivem.
A proibição também protege os potenciais visitantes. No passado, os Sentinelenses resistiram violentamente ao contacto com estrangeiros, tendo matado o missionário John Allen Chau, dos EUA, em 2018, depois de este ter desembarcado na ilha como parte de um plano para converter os residentes ao cristianismo. Dois pescadores indianos foram mortos em 2006, depois do seu barco ter ficado à deriva na ilha enquanto dormiam.
HGS Dhaliwal, o chefe da polícia das Ilhas Andamão e Nicobar, disse que o contacto com a tribo é perigoso porque, no passado, já demonstraram esta hostilidade para com forasteiros. “Polyakov estava apenas a tentar ser um aventureiro em busca de emoção, procurando um contacto com esta tribo primitiva e reclusa”, comentou ao jornal The Washington Post numa mensagem.
Na audiência de sexta-feira, Polyakov foi colocado em prisão preventiva durante 14 dias até à sua próxima comparência a 17 de Abril, informou a polícia.
Uma foto conseguida em 2004, quando uma equipa de investigadores, que procurava danos de um tsunami, sobrevoou a ilha de helicóptero
REUTERS/Indian Coast Guard
Ilango Dhandapani, advogado de Polyakov, disse numa mensagem ao jornal que o seu cliente negava as alegações. Dhandapani refere que Polyakov é um cidadão dos EUA, tal como também confirmou a polícia indiana.
O Departamento de Estado dos EUA disse num comunicado que tinha conhecimento de relatos sobre a detenção de um cidadão na Índia e que estava a acompanhar a situação.
O canal do YouTube Neo-Orientalist, que a polícia disse pertencer a Polyakov, tem pouco mais de 1800 subscritores e mostra-o anteriormente numa viagem de três semanas pelo Afeganistão controlado pelos talibãs. Há cinco meses, publicou uma imagem em estilo de banda desenhada [muito Tintim] de um rapaz num barco com um pequeno cão a caminho de uma ilha remota, com a legenda “Um pequeno teaser do Dia de Colombo para os fãs”.
Um povo à parte do mundo
Os Sentinelenses são o povo indígena mais isolado do mundo, de acordo com a Survival International, que trabalha para proteger os grupos indígenas. A pequena ilha florestal de Sentinela do Norte tem aproximadamente o tamanho de Manhattan [59 km²] e faz parte de um arquipélago que também acolhe os Shompen, outro grupo isolado, de acordo com a agência.
Na quinta-feira, agentes responsáveis pelos assuntos tribais inspeccionaram a ilha de barco, usando binóculos, para garantir que não havia sido deixado algo no território que pudesse pôr em perigo a tribo, disse um oficial superior da polícia de Andamão e Nicobar à agência noticiosa Press Trust India.
Pouco se sabe sobre os Sentinelenses, apenas que são caçadores-colectores e que serão entre 50 e 200 pessoas, disse o porta-voz da Survival International, Jonathan Mazower.
Mazower disse que tentar contactar o grupo é uma “coisa completamente louca, incrivelmente irresponsável e imprudente de se fazer”, pois forçar o contacto com povos não contactados “quase sempre acaba em níveis catastróficos de morte entre eles devido a epidemias de doenças”.
O responsável afirmou que, embora os grupos indígenas isolados já estejam em risco devido a práticas como o abate de árvores e a exploração mineira, a sua organização também está a assistir a uma ameaça crescente por parte de influencers que levam a cabo cenas assim “apenas para conquistarem mais seguidores”. É definitivamente uma tendência crescente e realmente preocupante”, diz Mazower.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
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